A Paisagem Fascinante da Serra da Estrela
É o teto de Portugal Continental. Desde tempos imemoriais que a Serra da Estela tem sido porto de abrigo para o homem, berço da transumância, cuja atividade teima em não desaparecer. Envolta em lendas, mistérios e personagens heroicas, as cidades, vilas e aldeias que rodeiam os antigos montes Hermínios guardam um passado comum banhado pelo rio Mondego.
A Serra da Estrela é a cordilheira mais alta de Portugal Continental. É, juntamente com a Serra da Lousã, a cordilheira constituinte mais ocidental do Sistema Central e também uma das mais altas do sistema.
Um dos lugares mais visitados do país, é no inverno que o branco da neve lhe confere estatuto de postal turístico.
Fotografia | Torre, de Artur Filipe dos Santos.
A Torre representa o ponto mais alto de Portugal continental, a 1.993 metros acima do nível médio do mar. Mas é o cume do Monte Pico, um antigo vulcão nas ilhas dos Açores, o pico mais alto do nosso país, com 2351 metros.
Este ponto não é um cume distintivo de montanha, mas sim o ponto mais alto de um planalto, sendo conhecido como a Torre, com as suas icónicas torres-radar da Força Aérea e uma pequena torre piramidal encimada por uma cruz, com três metros de altura, de forma a completar os dois mil metros de altitude, obra inaugurada em 1950.
Fotografia | Radares da Força Aérea, de Artur Filipe dos Santos.
A Torre é um cume pouco comum, já que é acessível por uma estrada pavimentada. O pico tem uma proeminência topográfica de 1.204 metros, faz parte da mais vasta cordilheira denominada Sistema Central, no subsistema designado como sistema montanhoso Montejunto-Estrela, que se desenvolve no sentido sudoeste-nordeste desde a serra de Montejunto e o seu pico-pai é o Pico Almanzor, em Espanha.
Da torre avista-se quase todos os vales circundantes: desde o vale de Loriga ao vale do Zêzere ou o da Candeeira, com os olhos posto no vale glaciar de Manteigas. A pouca distância da Torre a imagem esculpida de Nossa Senhora da Boa Estrela (desenhada pelo escultor António Duarte, em 1946), protetora dos pastores e uma das devoções marianas mais importantes do interior beirão.
A serra, situada entre os concelhos de Seia, Manteigas, Gouveia, Guarda e Covilhã (concelho pertencente ao distrito de Castelo Branco), tem cerca de 100 quilómetros de comprimento e 30 km de largura no seu ponto mais largo. É formada por uma enorme crista granítica que outrora formava a fronteira sul do país.
É na Serra da Estrela que nascem alguns dos rios mais importantes de Portugal, como é o Mondego, o maior rio inteiramente em território português; o Zêzere, que, 200 quilómetros depois, desagua no Rio Tejo, junto à vila de Constância; e o Alva também tem as suas nascentes na serra, igualmente um afluente, mas, desta feita, do Mondego, encontrando-se com este em Porto da Raiva, em Oliveira de Mondego.
A Estrela é uma zona de paisagem integrada no Parque Natural da Serra da Estrela, criado a 16 de Julho de 1976, que se resume como a maior área protegida em território nacional.
Fotografia | Vale glaciar de Manteigas, de Artur Filipe dos Santos.
A cordilheira central é conhecida pela sua paisagem natural de enorme beleza e contrastes nas suas formas, que vão desde florestas densas que se estendem à vizinha serra do Açor, ao vale glaciar de Manteigas (o maior da Europa), os bosques recortados por cursos de água, como o Covão d’Ametade (fotografia abaixo) ou os seus cântaros: Cântaro Magro e o Cântaro Raso, colossais superfícies rochosas muito procuradas para escalada.
Importa destacar também as suas muitas lagoas naturais, mas também a extraordinária Lagoa Comprida, na Estrada Sabugueiro-Torre, a maior das lagoas do maciço superior da Serra da Estrela. No lugar de um antigo glaciar, construiu-se, em 1916 uma barragem, aproveitando o pano rochoso de um covão, criando um lago que teve a profundidade inicial de 15 metros, alcançando, a partir de 1965, uns impressionantes 28 metros de altura.
Fotografias | Covão d’Ametade, de Artur Filipe dos Santos.
A tradição descreve uma lenda como estando na origem do nome da Serra, mas tanto o mito como a história são igualmente apaixonantes no caso da Estrela. Se as oralidades passadas de pais para filhos e para netos nos contam várias versões da narrativa, certo é que todas confluem para a história de um rapaz que habitava os (na altura chamados) Montes Hermínios e que desejava conhecer o mundo, na companhia do seu cão inseparável, para além da paisagem serrana onde sempre viveu. Um dia pediu ao céu que lhe oferecesse uma estrela que o guiasse nesse caminho até transpor a montanha, alcançando finalmente a fronteira entre o que sempre conheceu e o véu do desconhecido.
Fotografias | À esq.: Nossa Senhora da Boa Estrela, do escultor António Duarte; à dir.:Torre de três metros, inaugurada em 1950. Fotografias de Artur Filipe dos Santos.
E como toda a lenda tem um fundo de verdade, certo é que os povos do antigamente se guiavam por uma estrela que iluminava o cume da serra, a estrela Aldebarã, a mais brilhante da constelação de Touro, que nos finais do mês de abril e princípios de maio, iluminam o entardecer da penedia, momento no ano que assinala a transição entre a estação fria para a quente, regressando o pastoreio às regiões mais altas da serra, numa dinâmica conhecida como transumância.
Berço de uma das raças de cães mais apreciadas do país, o cão da Serra da Estela é um parente afastado do famoso S. Bernardo. Introduzido pelos visigodos neste território, é descendente de antigas raças asiáticas.
E se o cão é um fiel companheiro doméstico do Homem da montanha, a Serra está pejada de vida selvagem, contando cerca de 250 espécies de vertebrados terrestres e aquáticos e mais de 2100 espécies de invertebrados, com destaque para o lobo e a raposa, o javali ou a lontra e, a vigiar do alto, a águia de Bonneli, o falcão peregrino, a águia-de-asa-redonda, o milhafre preto, o bufo real e ainda o mocho-galego. A controlar o ecossistema insetívoro encontramos, finalmente, o morcego-orelhudo cinzento.
Já no contexto da flora, destaque-se a mancha generosa de castanheiros, o zimbro e o carvalho, espécies que estiveram fortemente ameaçadas pelos incêndios de 2022.
E para apreciar a paisagem natural da Estrela, há relativamente pouco tempo, o município levou a cabo uma série de percursos pedestres em madeira e terra batida, conhecidos como os “Passadiços do Mondego”, inaugurados em novembro de 2022. Numa extensão total de cerca de 12 quilómetros, acompanhando o curso do rio Mondego, os passadiços encontram-se inseridos no Geopark Estrela, estatuto de património geológico da Humanidade, atribuído pela UNESCO em 2020.
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