O Realizador que Constrói Debates Sociais
O Realizador que Constrói Debates Sociais
O Realizador que Constrói Debates Sociais
O Realizador que Constrói Debates Sociais
O Realizador que Constrói Debates Sociais
O Realizador que Constrói Debates Sociais

O Realizador que Constrói Debates Sociais

Portuense de gema, o realizador, produtor, investigador e professor, conseguiu, ainda, juntar ao seu leque de responsabilidades a de Diretor do Campus Cinematográfico do Festival de Cinema de Montacatini, Academic Commitee, no National Creative Arts Fundation California City, desde 2022. O audiovisual entrou na sua vida na viragem do século, em 2000. Desde essa altura, Carlos Coelho Costa tem vindo a trabalhar em vários projetos de cinema internacional. Além-fronteiras, foi assistente de realização em sete longas-metragens. Na caminhada como Realizador, destacam-se duas longas-metragens de ficção, 14 curtas-metragens, duas séries de televisão, vários documentários, duas web séries e uma dezena de campanhas publicitárias.

Carlos agarrou na linguagem própria do Cinema para construir debates sociais sobre fenómenos emergentes sem, contudo, perder a tradição de uma expressão artística na qual convergem artes como a Fotografia, Teatro ou a Dança. Estas pinceladas coloridas de subtilezas são encontradas na curta-metragem “Quatro Estações”, numa envolvência entre a elegância e a natureza que tem cativado vários festivais internacionais. Ou ainda, na captura de aromas e matizes marcantes do documentário “Tales of Índia”, que lhe tem valido uma série de troféus na categoria.

Realizador, produtor e ousado argumentista, Carlos Coelho Costa é um nome que se afirmou no filme “A Parede”, sintetizando nesta obra basilar o drama do bullying e a violência doméstica.

Trailer da Longa Metragem "A Parede"

Determinado a colocar na tela os riscos psicossociais de problemáticas que a estreante Cláudia Jacques e o experiente António Capelo desempenharam de forma lapidar, foi (e continua a ser) laureado em festivais internacionais.  A sua carreira conheceu aqui uma viragem significativa e a certeza de ter alcançado a sua própria “poiésis”, numa linha triádica entre a sintaxe, a forma e o discurso. E, assim, iniciou um processo de maturidade em outros trabalhos a desafiar o "status quo" e a promover novos ângulos sobre a natureza humana. 

Voltemos às origens, enquanto criança tinha o sonho de trabalhar na área musical, começou a aprender a tocar piano com 5 anos de idade e nunca achou que fosse trabalhar noutra área que não a da música. Só em 2007 é que a realização se impôs de forma mais vincada: “o gosto por esta área aumentou desde essa altura até aos dias de hoje”, garante.

Detentor de mais de 300 prémios internacionais, Carlos Costa encontrou alguns minutos do seu dia para conversarmos, revelando um pouco mais sobre o seu percurso profissional na área do audiovisual, falou sobre as experiências internacionais e ainda levantou o véu de dois projetos que tem, neste momento, em mãos: uma série e uma longa-metragem produzidas com parcerias além-fronteiras e que, segundo a previsão, vamos poder ver em 2023.

Carlos Costa com claquete

Em que momento se deu o clique e percebeste que o teu caminho profissional estava nos audiovisuais?

Eu comecei a trabalhar em audiovisual em 2000, quando compus uma banda sonora para uma curta-metragem de uma produção inglesa. O meu percurso profissional começou no departamento de áudio, não só a compor música, mas também como assistente de som, diretor de som e editor de som. Posteriormente, comecei a trabalhar noutros departamentos, quer na operação de câmara, quer na edição de vídeo. Em 2007, depois de ter passado pelos vários departamentos audiovisuais decidi realizar a minha primeira curta-metragem chamada “Bling Blind”.

O que é que te interessa mais no argumento?

Qualquer história tem potencial para ser trabalhada por mim, quer seja num drama, numa comédia ou noutro tipo de narrativa, contudo tenho um interesse especial por temas relacionados com a problemática social. Como realizador acho que deveríamos sensibilizar mais as audiências sobre estas questões.

De que forma achas que o vídeo pode intervir socialmente e mudar mentalidades?

O vídeo e o cinema têm um papel fundamental para construir e modificar mentalidades. Aliás, é esta premissa que me faz trabalhar em filmes que abordem problemáticas sociais, pois acho que como realizador devo mostrar à sociedade estes temas e tentar transformar mentalidades, pois só assim poderemos ter uma sociedade diferente.

És um realizador que gosta de estar com os atores ou preferes trabalhar de forma mais reservada?

Carlos Costa com o atores em cena

Eu sou um realizador que gosta de trabalhar diretamente com os atores bem como com os diretores de cada departamento. Apesar de ser uma pessoa reservada acho fundamental esta partilha, só assim conseguimos obter os melhores resultados, discutindo todos os pormenores com todos os intervenientes.

É fundamental falar, estar constantemente a falar e a discutir cada cena com os atores, explicando qual é a minha visão e tentar perceber o que o ator vê em determinada cena do filme. Da mesma forma que discutir com os diretores de cada departamento é essencial de forma a conseguir ter o melhor resultado tendo em consideração a minha visão e a opinião de cada especialista.

Como tem sido possível produzir as próprias obras? Tens tido algum tipo de apoio?

Tenho feito projetos cinematográficos a vários níveis. Tenho produzido obras onde sou eu que financio todos os custos de produção, mas também tenho trabalhado em projetos financiados por “film grants” ou por investidores de cinema internacionais e nacionais.

Em que ponto estão as políticas portuguesas de financiamento ao audiovisual?

As políticas portuguesas de financiamento em audiovisual estão um pouco atrasadas em relação aos vários países europeus, na realidade ainda não posso dizer que exista uma política de financiamento que faça sentido. Temos muitas pessoas interessadas em mudar este paradigma. Cada vez mais existe uma troca de conhecimentos entre as forças políticas e as produtoras, contudo ainda falta muito para que consigam criar algum impacto.

Na tua opinião, o que pode ser feito para melhorar o panorama da produção de cinema e curtas em Portugal?

Neste momento apesar de se fazer muita produção de cinema em Portugal devemos começar a trabalhar cada vez mais em coproduções com outros países, só assim é que poderemos aumentar a quantidade e a qualidade da produção cinematográfica em Portugal.

Como é que surgem as ideias para estes projetos?

Antes de começar um projeto tenho que fazer um estudo aprofundado do tema em questão, estudar o máximo de literatura disponível e ver conteúdos audiovisuais sobre o tema que vou trabalhar. Se este processo não fosse feito assim não faria sentido para mim, pois uma das grandes falhas que deteto em muitos projetos cinematográficos é a falta de rigor científico e de estudo sobre o tema que está a ser abordado.

De que modo é que o produtor e o realizador acompanham o desenvolvimento da ideia, sendo a mesma pessoa? Já entraram em conflito?

Nos meus projetos, quando sou em simultâneo realizador e produtor nunca entrei em conflito, apesar de nem sempre ser fácil equilibrar estes dois papéis. O facto de já ter trabalhado de forma separada, quer seja apenas como realizador, quer seja apenas como produtor permite-me reconhecer os problemas que podem existir entre estes dois cargos e como devemos ser flexíveis, quer a nível criativo, quer a nível de gestão dos recursos monetários.

Violência doméstica e bullying são dois dos grandes problemas da sociedade que já abordaste. Fala sobre esta experiência e como é que o filme ajudou no lançamento da tua carreira.

A longa-metragem “A Parede” aborda os temas da Violência doméstica e o bullying conforme referes. Este projeto foi bastante complexo, demorei mais de 2 anos em pesquisas, entrevistas a vítimas, a especialistas nestas matérias e, ainda na escrita do argumento.

Além disto foi também uma experiência enriquecedora trabalhar neste filme pois estava habituado a trabalhar em produções com grandes orçamentos e tive que realizar e produzir esta longa-metragem com um orçamento reduzido.

Com 12 anos de experiência profissional na altura e um bom relacionamento com muitos atores e técnicos profissionais permitiu-me juntar os melhores elementos neste projeto e realizar uma longa-metragem que tem tido grande sucesso internacional.

Carlos Coelho Costa

Até hoje, quantos prémios recebeste?

Até ao momento recebi mais de 300 prémios internacionais de cinema e cerca de 50 com a longa-metragem “A Parede”.

Em toda a carreira, quais os projetos que destacas?

Todos os projetos que participei e criei são especiais para mim por isso é difícil escolher o projeto que mais destaco na minha carreira, contudo a longa-metragem “A Parede” foi muito marcante até porque foi a primeira longa-metragem que realizei e que me catapultou para o reconhecimento internacional.

Nas estreias, já aconteceu apontares erros ou partes do argumento que gostavas de mudar?

Como realizador e perfeccionista que sou, acho que isso é algo que acontece sempre, contudo com a maturidade profissional que fui adquirindo ao longo de 22 anos fui adaptando-me e consigo chegar a um ponto em que dou por terminado o projeto, pois, caso contrário corro o risco de nunca estar contente com o resultado que tenho. O facto de trabalhar sempre com os melhores técnicos desta área também me ajuda a conseguir estes resultados.

Projetos a decorrer, o que podemos esperar?

No momento estou envolvido em vários projetos internacionais, como a série “Civilização do Medo”, numa coprodução Portugal - Espanha. Além disso estou a preparar a minha terceira longa-metragem de Ficção em Coprodução com França, Espanha e Suécia. Um filme com enorme potencial e que conta com a participação de atores nacionais e internacionais. O filme será rodado em Portugal, Espanha e Mónaco. — Segundo as previsões poderão ser vistos já em 2023.

A pandemia afetou o teu mercado de trabalho?

Obviamente a pandemia afetou muito o meu mercado de trabalho, da mesma forma que a pandemia afetou quase todos os mercados. O principal desafio neste meio é termos a capacidade de conseguirmos contornar as dificuldades e trabalhar em alternativas.


Filmografia de Carlos Coelho Costa como Realizador e Produtor

► 4 Estações – curta-metragem Ficcional 2021 (Realizador e Produtor)

► Dados – Curta-Metragem 2020 (Realizador e Produtor)

► O filho Pródigo longa-metragem 2019 (Realizador)

► Quatro Estações – Curta-Metragem 2019 (Realizador e Produtor)

► Em busca dos aflitos – Documentário 2019 – Rodagem (Produtor)

► Pneuma – Curta-Metragem Animação 2019 – Rodagem (Produtor)

► Ashen Lady – Documentário 2019 – Pós-Produção (Produtor)

► A Gotinha da Aldeia – Documentário 2019 – Pós-Produção (Produtor)

► Civilização do Medo "Série de Televisão" 2019 – Rodagem (Realizador e Produtor)

► Zoccner Late Show – Programa de Televisão – 2019 (Realizador)

► The Weekly Sexy Soccer Show – Programa de Televisão – 2018 (Realizador)

► Insidia - Curta-Metragem 2018 - Pós-Produção (Realizador e Produtor)

► Tales of India – Documentário 2018 (Realizador e Produtor)

► And Around... And Around – Curta-metragem 2016 (Realizador e Produtor)

► A Parede – Longa-metragem 2015 (Realizador e Produtor)

► Ribeira do Porto – Documentário 2009 (Realizador e Produtor)

► O Talhante – Curta-metragem 2008 (Realizador e Produtor)

► Bling Blind – Curta-metragem 2007 (Realizador e Produtor)

► Do Comercial ao Cultural – Documentário 2007 (Realizador e Produtor)


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Entrevista com Parceria da SMASH

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