A Evolução Mercantil do Porto
A Evolução Mercantil do Porto
A Evolução Mercantil do Porto

A Evolução Mercantil do Porto

Ciclo “Histórias que o Porto Conta”

A cidade do Porto é um misto histórico que representa a passagem de inúmeros povos que, aqui ou acolá, deixaram a sua marca.

Se uns deixaram testemunho marcado na pedra, outros revelaram ligações através do marco cultural guardado ao longo dos séculos, um intercâmbio que foi sendo realizado também graças à importância que o velho burgo sempre deteve no contexto das relações comerciais entre o norte da Europa e a bacia do Mediterrâneo.

Certo é que, para a evolução comercial do Porto contribui muito o desenvolvimento do núcleo amuralhado da zona da Sé e a estrada, atribuída aos romanos, que ligou a zona ribeirinha à parte alta e que hoje leva o nome de rua dos Mercadores.

Depois da conquista do visigótico Teodorico e da tomada da cidade pelos muçulmanos em 716, séculos mais tarde, com o advento do primeiro Condado Portucalense (868) assiste-se a uma reconstrução ou fortificação de Portucale, após a investida de Vimara Pérez, vivendo, a partir de então, um período próspero da sua história. 

Da cidade partiu toda a ação de reordenamento da zona e, em alguns casos, de repovoamento, para além dos limites da antiga diocese que aí tinha sede, quer a norte do rio Ave, quer a sul do Douro rio. Nesta altura, o território já se designava por Terra Portugalense. A partir desse momento o burgo cresce também em importância económica, tornando-se um ponto de encontro entre comércio mediterrâneo com o noroeste peninsular e o norte da Europa.

Com a doação dos territórios do antigo condado a D. Henrique de Borgonha, por via do seu casamento com Teresa de Leão, filha ilegítima de Afonso VI com Ximena Moniz, a cidade do Porto volta a ser um dos epicentros do poder económico do antigo condado, com a atividade comercial a gerar avultadas somas de impostos para a família condal.

 Senhorio da Cidade

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Durante séculos o Senhorio da Cidade pertenceu ao Bispo do Porto.

A carta de couto por D. Teresa ao bispo D. Hugo, em 1120, torna-o o “Senhorio da Cidade”, os impostos cobrados passaram para a dependência da igreja, explícito no foral que D. Hugo outorga à cidade em 1123, gerando conflitos com os comerciantes e os mesteres. As disputas entre o bispo e os burgueses no que diz respeito a impostos chega, no séc. XIII, a envolver o rei Afonso III, que se opõem ao poder do “Senhorio”, levando à interceção do monarca em favor dos mercadores da cidade. Desta “intromissão” resultou a excomunhão do rei, em 1268, pelos bispos de Braga, Porto e Coimbra. O clero apresentou quarenta e três queixas contra o Afonso III, entre estas acusar o rei de impedir a cobrança de dízimos pelos bispos, utilização dos fundos destinados à construção de igrejas e capelas ameaças de morte ao arcebispo de Braga e aos bispos e, ainda, a nomeação de judeus para cargos de grande importância. 

A contenda ganhou de tal forma dimensão que o próprio Papa Clemente IV excomunga o rei português. Como resposta, Afonso III doa carta de Foral a Gaia em 1255 e, mais tarde, D. Dinis oferece foral a Vila Nova. Estas doações tiveram como objetivo a fuga dos mercadores do Porto para a margem sul, onde o rei cobraria impostos menos pesados. Mas à medida que a contestação ao bispo aumentava, o poder real ganhava grande apoio na cidade, levando o rei Afonso IV, em 1320, a mandar construir um “almacen” e uma alfândega régia, controlada por um almoxarife. É também este rei que dita a construção de uma nova malha de muralhas, terminadas no tempo de Fernando, em 1370.

Porta Bolsa dos Mercadores Porto

Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Antiga bolsa de mercadores do Porto, em cuja fachada se encontra visível o brasão da Dinastia da Avis. A porta, à direita, servia de ligação à casa da Moeda, anexa à antiga Alfândega Régia (atual Casa do Infante).

No reinado de D. João I veio a paz com o bispo, à custa de um esvaziamento do poder diocesano na cidade. É da época do monarca da “Boa Memória” que data a instalação, em 1402, da Bolsa dos Mercadores. Ainda hoje a fachada ostenta o brasão de D. João I. Ao lado uma porta, também brasonada, levaria, ao tempo de Afonso V, a conectar o edifício da Bolsa dos Mercadores à Casa da Moeda (atual parte do espaço da Casa do Infante), oficina monetária criada na cidade do Porto por “Carta de Privilégios do alcaide, moedeiros e oficiais da Casa da Moeda do Porto,” que D. Fernando outorgou em março de 1370.

No período áureo dos Descobrimentos Portugueses, a cidade do Porto toma a dianteira da indústria naval, graças aos estaleiros de Lordelo do Ouro, elevando ainda mais a importância comercial da cidade, levando ao surgimento do Mercado da Ribeira e no séc. XVII-XVIII à construção e aluguer de armazéns, em Massarelos, para guardar produtos para consumo da cidade e exportação. Um desses produtos é o Vinho do Porto. A intervenção dos Almadas (João de Almada e Melo e Francisco de Almada e Mendonça), no séc. XVIII — e apoiada por uma cada vez mais influente comunidade britânica — dá a conhecer novos arruamentos, uma nova organização urbanística, à custa da desmontagem de grande parte dos trechos das muralhas primitiva e fernandina, crescendo a cidade em direção a norte, este (Campanhã) e oeste (em direção à atual Boavista e Foz). Na primeira metade do séc. XIX o Porto passa pelos episódios conturbados das invasões francesas e a guerra civil.

Com a segunda metade veio um novo ímpeto comercial da cidade, com a criação da Associação Comercial do Porto (1834), a construção da nova Alfândega (obra de Jean-François Colson, inaugurada em 1869), na antiga praia de Miragaia e o surgimento dos mercados, que ainda hoje conhecemos na cidade, com destaque para os antigos mercados Ferreira Borges, da Ribeira e do Anjo e do (agora renovado) Mercado do Bolhão.


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