Arte é Cura

Arte é Cura

A Arte, a História, a Homenagem, a Verdade, a Cura: Mães do 27

Uma exposição coletiva organizada pela associação M27, composta pelos órfãos do 27 de Maio [1977] e de pessoas solidárias com a causa, na busca da verdade histórica.

Em entrevista à Draft World Magazine, Maura Faial, diretora de projeto e membro da associação das vítimas do 27 de maio, M27, explica como surgiu a ideia para este evento, enquadrando a época histórica em que este tema se enquadra, o chamado "golpe de Estado” de 1977, altura em que milhares de angolanos foram torturados e assassinados, sem julgamento. Hoje, muitas das vítimas ou familiares continuam sem conhecer toda a verdade sobre os crimes cometidos na altura. “Em cada três famílias, uma foi tocada por este acontecimento, 44 anos de espera, de dor, de angústia sem poder lamentar, porque sem um corpo, não há enterro. Sem um funeral, não há adeus. Sem um "komba"*1 um capítulo não é encerrado. As mães tinham de carregar este peso, com muito menos poder. As mulheres tiveram de continuar a tomar conta de outros filhos, ou dos seus netos.”, sublinha Maura Faial.

A M27 surgiu para: “trazer a debate um tema sensível e controverso e que ainda gera muitos receios” além de “sempre inclinados a pensar na justiça”, querem encontrar: “uma forma alternativa de estar ao lado do povo angolano. Este ano, reunimos solidariedade, bondade e criatividade para estar ao seu lado, também em paz.”, através da arte.

Os membros da associação querem transmitir que é possível debater, o 27 de maio de 1977, de formas diferentes, e com outras leituras.

“As obras de arte não vão 'morrer' num caminho que se prevê ser longo, na busca da verdade.”, afirma a diretora do projeto.

A exposição tem como conceito principal a “Cura/Cure”. É uma homenagem aqueles que perderam a vida e às famílias que ficaram sem respostas ou apoio. Com este evento, a M27 pretende, por um lado: “trazer conforto e aproximar-se do povo de Angola”. E por outro lado: “inspirar a abordagem da dor dos outros, com mais bondade”, sublinha Maura Faial.

“As vítimas não são apenas as que pessoas que morreram, mas também as mães, as mulheres e os filhos que ficaram, com as lutas e a sua dor. Em cada três famílias, uma foi tocada por este acontecimento, 44 anos de espera, de dor, de angustia, sem poderem fazer o luto. Porque sem corpo, não houve enterro, sem enterro não há komba*1, sem komba não se encerra um capítulo. As mães tiveram que carregar este peso, impotentes, tiveram que continuar a cuidar de outros filhos…ou dos seus netos, agora sem pais… Esta é uma homenagem a elas…”

Maura Faial

“Mães do 27” estará aberta ao público a partir de 15 de julho, até 28 de agosto, no espaço Espelho de Água, em Lisboa. 

Artistas envolvidos no projeto | Kassessa Gandara, Lino Damião, Nelo Teixeira, Leda Baltazar, Armanda Alves, Zizi Ferreira, Isabel Batista, Jorge Sistelo.

Curadoria | Kassessa Gandara e Aura Dragulanescu.

Pode acompanhar o evento a partir das redes sociais dos organizadores e da Draft World Magazine:

FB | Maura Faial - Diretora do Projeto

IG | Maura Faial

Curadoria |

IG - Kassessa Gandara

IG - Aura Dragulanescu

*1 Comba (ou Komba) - Velório na casa do morto, em que se come, bebe e dança.

Imagem de capa inspirada na obra da artista Leda Baltazar | Adaptação de Kassessa Gandara