Camões e a Portugalidade Espalhada pelo Mundo

Camões e a Portugalidade Espalhada pelo Mundo

É um dos feriados mais simbólicos do calendário português. A data de 10 de junho procura celebrar o encontro do nosso país com a história, a sua diáspora e o contributo da cultura portuguesa para a afirmação além-fronteiras, plasmada na figura quase mitológica de Luís Vaz de Camões.

Chamaram-lhe Dia da Raça no período de vigência do Estado Novo, chegou a ser tão-somente um feriado municipal, até que, em 1978, esta data passa a ostentar o título que atualmente conhecemos: Dia de Portugal, de Camões das Comunidades Portuguesas, mas também do Anjo Custódio de Portugal, da Língua Portuguesa e das Forças Armadas.

Contudo, para conhecermos com profundidade os inícios daquele que é, comprovadamente, o feriado mais importante da lista de efemeridades que, ano após ano, se comemora em Portugal, temos de recuar até 10 de junho de 1580, o presumível ano da morte de Luís Vaz de Camões. A tradição, e muito pouco da história, conta-nos que a sua família, conotada com a pequena nobreza galega oriunda da Costa da Morte, entre o Cabo Finisterra e A Coruña, na Galiza. Dos seus antepassados mais ou menos famosos, e que a história ainda hoje recorda, conta-se a de Vasco Camões, trovador do lado de lá do Minho e Antão Vaz de Camões que contraiu matrimónio com Guiomar Vaz da Gama, membro algarvio da família de Vasco da Gama. Antão e Guiomar foram os avós de Luís Vaz de Camões, que teve um tio célebre, nada mais, nada menos do que Bento Vaz de Camões, clérigo do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e chanceler da Universidade de Coimbra.

Luís era filho único, nascido da união entre Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo, oriunda de uma família nobre de Santarém. Da sua infância muito se fantasiou, ao mesmo tempo que se romantizou a sua juventude com o retrato de estudante rebelde e pouco dado ao saber que, mesmo assim, terá conseguido ingressar na universidade, apesar de não haver qualquer registo. Certo é que a sua aura de poeta galanteador se espalhou, ao ponto de se contar como um desgosto amoroso lhe terá levado a viajar para a África numa das naus que realizava a rota das Índias. Ter-se-á alistado no exército e numa batalha épica viria a perder o seu olho direito. Regressado a Portugal, terá feito das suas, esteve encarcerado em mais de uma mão cheia de ocasiões, algumas delas na sua estada na Índia. É aqui que terá escrito a mais universal das suas obras, “Os Lusíadas”, envolto também na história épica do naufrágio do navio que o transportaria de regresso à pátria, com o poeta-herói a nadar com um braço até terra firme, enquanto, na mão contrária, segurava as folhas do precioso manuscrito. Viria a falecer aos 56 anos, em 1580, precisamente no dia 10 de junho.

Com a queda da monarquia, em 1910, o novo regime acabou com a grande maioria dos feriados religiosos. O objetivo: transformar o país numa sociedade laica e diminuir a influência da Igreja junto das populações. Desta forma foram abolidos também muitos dos feriados nacionais, cabendo às autarquias escolherem uma data simbólica para o seu feriado local.

Foi a Câmara Municipal de Lisboa que, em 1916, decretou o 10 de junho como feriado municipal. Uma tentativa dos republicanos assinalarem a memória das chamadas “Comemorações Camonianas”, celebradas em 1880 e que terão sido o rastilho para o crescimento do movimento republicano junto das massas e que culminaria, 30 anos mais tarde, com a queda da monarquia.

É o Estado Novo que confere a esta data a dignidade de feriado nacional, numa clara estratégia propagandística, coletiva e corporativista da história de Portugal, dos seus feitos além-mar, dos grandes homens que construíram a nação e imortalizaram a cultura, para além da raça lusitana, que terá sido incluído no rol das comemorações por Oliveira Salazar aquando do discurso que proferiu na inauguração do Estádio do Jamor, a 10 de junho de 1944. A Guerra Colonial haveria de levar ao acrescento de mais uma homenagem, desta feita às Forças Armadas, num claro exercício de legitimidade do colonialismo e do conflito com os territórios africanos.

Mas como o Poder, qualquer que seja, não dura para sempre, e a vontade dos Homens muitas vezes acompanha a mudança dos poderes, em 1978, após a Revolução dos Cravos, a data ganhou o cariz simbólico que atualmente atribuímos, o de guardar a história e a diáspora portuguesa pelo mundo, a sua relação com a fé, ao mesmo tempo que recorda a importância da obra de Camões no esforço de perpetuação da literatura portuguesa na cultura universal, ao mesmo tempo em que são distinguidas, pelo Chefe de Estado, personalidades da atualidade que se destacam ao serviço da portugalidade, da educação, investigação, artes, entre outras, dentro e fora do território nacional.


Fotografia | Istvan

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