Liberdades...
Ainda há poucos dias em Portugal comemoramos os 48 anos do 25 de Abril. Somos filhos da madrugada que anunciou à população a possibilidade de uma vida em liberdade e democracia. Com a revolução dos cravos veio um conjunto de possibilidades potencialmente realizáveis, abriram-se horizontes de futuro e o povo deste país pôde começar a sonhar. Um sonho-projeto que esboçava realidades futuras que semeavam o presente.
Independentemente da realização, passara a ser possível tomar a voz, encontrar lugar e afirmar a sua vez. As pessoas emanciparam-se, trouxeram para a frente a sua humanidade com tudo o que a humanidade concreta tem de acertos e de erros, de sucessos e de fracassos. O que é certo é que o “poder” passou a ser uma realidade potencialmente concretizável para cada um e para todos enquanto coletivo.
Rollo May, famoso psicólogo e psicoterapeuta norte-americano, falou-nos do potencial de liberdade que segundo este autor articula três fatores fundamentais que estão intrincadamente relacionados entre si, nomeadamente: liberdade, ação e responsabilidade.
Estes implicam vir a desenvolver-se no sentido de um rumo saudável e maduro, ou seja, poder assumir progressivamente a sua possibilidade de escolha. De acordo com Viktor Frankl, o indivíduo na sua liberdade é convidado a decidir, ainda que seja pela passividade. Para ele o ser humano possui liberdade em todas as situações, contudo, na maioria das vezes, desiste de forma voluntária por não ter consciência da liberdade. A liberdade, segundo o mesmo autor possui dois aspetos: o primeiro, a possibilidade de não se submeter às determinações, isto é, poder assumir a sua “liberdade para”, e o segundo, ser livre, o que quer dizer ser consequentemente responsável pela sua liberdade.
Tal como May, Frankl coloca a responsabilidade como a outra face da liberdade. Relembrando-nos que quando o ser humano vai no sentido da liberdade torna-se um ser orientado para a realização do significado existencial. O ser humano é chamado à liberdade e à responsabilidade pessoal para dessa forma dar uma resposta à vida e suas situações e a partir daí descobrir o sentido que a vida tem. É necessário de algum modo encontrar sentido para a vida, para a dor e para o sofrimento, no fundo para a Vida com todas as suas cores.
A possibilidade de sermos livres, é ao mesmo tempo, um desejo e uma angústia. Quando não se sabe o que fazer com o que estamos a experimentar no presente, por vezes saltamos para o futuro como uma fuga para a frente, o que origina o sentimento de frustração, pois a liberdade de poder satisfazer as necessidades foi alterada (Guillermo Feo).
Nesta senda, a liberdade, como dimensão ontológica, aparece na experiência da realidade humana como liberdade de ser, deixar ser e de vir a ser.
E porque a liberdade não se quer em excessos, mas na justa medida do necessário à Vida e às relações humanas, não me alongarei muito mais nesta reflexão, deixando-a em aberto para a liberdade de pensamento de cada um e cada uma. No entanto e para finalizar deixo-vos um conjunto de cinco liberdades propostas pela Terapeuta Familiar norte-americana Virgínia Satir.
As Cinco Liberdades (adaptado de Virgínia Satir)
► A liberdade de ser e escutar o que está e ocorrer no momento presente, em vez do que penso que deveria ser, o que foi, ou o que será;
► A liberdade para decidir o que sinto e penso, em vez do que deveria sentir ou pensar;
► A liberdade para pedir o que quero, em vez de esperar permissão para fazê-lo;
► A liberdade de perguntar e aprender sobre o que se quer, em vez de perguntar sobre o que está disponível;
► A liberdade para correr riscos por conta própria, em vez de escolher apenas o que é “seguro” e não arriscar.
Liberdade, é um valor que se conquista dia-a-dia. Liberdade é tomada de posse, é conquista e cuidado. É minha e é tua.
Sugestões de Leitura |
Feo, G. (2003). Caos y congruencia. Gálac.
Frankl, V. (2021). Dizer Sim à Vida Apesar de Tudo. Pergaminho.
May, R. (1980). O homem à procura de si mesmo. Vozes.
Satir, V. (2006). Vivir Para Amar: Un Encuentro Con Los Tesoros De Tu Mundo Interior. Editorial Pax México.
Ver também |
Não Somos Humanos por Natureza
Uma Paz que se Educa
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