Maior incensário do mundo: o ponto alto da missa de oferenda
E porque o dia 25 de julho é, ao mesmo tempo, o Dia Nacional da Galiza, a manhã começa com as mais importantes personalidades da política, da cultura e da economia a apresentarem-se na Praça da Obradoiro para assistirem à parada militar. Esta é a primeira das duas cerimónias oficiais que assinala, desde 1979, o estatuto autonómico da comunidade e, pela tarde, no Panteão dos Galegos Ilustres, localizado na igreja do Mosteiro de São Domingos de Bonaval, as autoridades participam no ato que recorda o esforço realizado pelos intelectuais galegos, que formaram aquela que ficou conhecida como a “segunda assembleia das Irmandades da Fala”, um grémio de apoio ao “renascimento” da língua e do nacionalismo galego, que se reuniu na cidade de Santiago de Compostela, em novembro de 1919 para declarar o seu apoio à data de 25 de julho como o dia de exaltação da história e cultura galegas, em oposição a outras datas. Um ano depois um boletim publicado, precisamente a 25 de julho, pela assembleia, exortava os galegos de “todos os "logares do mundo onde latexa un peito galego” a festejar "chea de ledicia reloucadora o Día de Galicia".
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Discurso de Alfonso Rueda, que elogia o caráter único do Caminho de Santiago, como pólo cultural agregador da Galiza no mundo. Sob o olhar atento de Núñez Feijóo, o seu sucessor no cargo de presidente da “Xunta de Galicia” profere, na qualidade de representante, a mensagem do rei Filipe VI.
Finda a parada militar, é a vez das autoridades políticas se unirem às figuras eclesiásticas que comandam os destinos do cabido compostelano e dirigirem-se em procissão até à catedral para tomarem o seu lugar na Missa da Oferenda Nacional ao Apóstolo, instituída pelo rei Filipe IV de Espanha (III de Portugal) em 1643, quando nomeou Martín de Redín (na altura capitão general da Galiza) o primeiro oferente que, terá, de acordo com os relatos da época, entregue à arquidiocese, em nome do rei, “1000 escudos de ouro”.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Parada Militar na Praça do Obradoiro, com o presidente da Xunta de Galicia, Alfonso Rueda, a passar em revista as tropas em formação.
Recordando a relação da coroa espanhola com a devoção ao patrono da nação, os reis deslocam-se a Compostela para, pessoalmente, cumprirem a tradição, como aconteceu, por exemplo em 2021. Caso não lhes seja possível, um representante real é nomeado. Este ano coube ao presidente da Xunta de Galicia, Alfonso Rueda, que se estreou nesta cerimónia como líder do poder autonómico.
Refira-se a curiosidade que a Missa conheceu duas estreias, a de Alfonso Rueda mas também de D. Francisco Prieto como novo Arcebispo da arquidiocese compostelana.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Jovens peregrinos em trânsito para as Jornadas Mundiais da Juventude, que decorrem em Lisboa, entre os dias um e seis de agosto.
É uma solenidade exclusiva, envolta em simbolismo e discursos de praxe, que marca o ponto alto das comemorações tanto do Dia de Santiago como da Galiza. Nesta tomam parte as autoridades religiosas, políticas, mas também académicas, do mundo da cultura e da economia, mas também ordens militares honoríficas e clericais. Mas este ano a cerimónia contou ainda com a participação de dezenas de jovens peregrinos em trânsito para as Jornadas Mundiais da Juventude, que decorrem em Lisboa, entre os dias um e seis de agosto.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Alberto Núñez Feijóo, presidente da Xunta da Galiza entre 2009 e 2022 e atual líder do Partido Popular Espanhol assiste à Missa Solene de Oferenda Nacional ao Apóstolo.
Refira-se ainda que a cerimónia atraiu ainda mais atenções mediáticas do que é sempre normal já que ficou marcada pela presença do vencedor do último ato eleitoral legislativo em Espanhol e presumível futuro primeiro-ministro, Alberto Nuñez Feijóo, que antecedeu Alfonso Rueda no cargo de presidente do governo galego.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Botafumeiro.
Como é tradição, a missa finda com a viagem do maior turíbulo do mundo, o botafumeiro, um incensário em prata, de 53 quilos, puxado por oito homens, conhecidos como os tiraboleiros, que assim o fazem voar sobre as cabeças dos crentes que se encontram no transepto da catedral, a uma velocidade que chega a alcançar os quase 70 km/h, entre a porta de Platerías e a Porta da Azebachería.
Mas é fora do templo que reside o verdadeiro espírito do Dia de Santiago e da Galiza. Pelas ruas de Compostela peregrinos em jubilo juntam-se a todos os que desejam festejar a mais simbólico das datas festivas da comunidade, ouvindo-se, um pouco por todo o lado, o som de gaitas de fole, caixas e bombos, os passos de gigantones e cânticos não só galegos, mas também portugueses, recordando que, dos dois lados da fronteira, a crença evocativa ao Apóstolo Santiago é profunda e enraizada e, tal no passado como hoje, há um caminho que nos une.
► Percorra a galeria de fotografias, cortesia do autor Artur Filipe dos Santos. Encontre AQUI a Parte I da cobertura ao Santo Patrono da Espanha e ao Dia Nacional, uma jornada repleta de cerimónias religiosas, políticas, militares e, sobretudo, populares.
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