Diversidade e Inclusão

Diversidade e Inclusão

Vieses Cognitivos

Gostaria de iniciar com o conceito de Vieses Cognitivos. Mas essa história começa há muitos anos – mais precisamente há cerca de 70 mil anos. Na nossa evolução, nosso cérebro foi criando “camadas”, e cada camada mais externa é mais complexa, sofisticada, e mais relacionada com as funções que nos fazem animais tão especiais. A camada mais sofisticada, responsável por nossas decisões conscientes, pensamento lógico e racionalidade se chama córtex pré-frontal, e fica na região da nossa testa. Justamente por ser mais sofisticada, essa camada consome bastante energia e tempo para que possamos chegar a decisões finais.

Claro que ter um mecanismo tão complexo guiando todas as nossas ações enquanto vivíamos nas florestas – e até hoje em dia, com tantos afazeres e pequenas decisões que tomamos em nosso dia-a-dia. Por isso, antes que essa racionalidade fosse desenvolvida, nosso cérebro já tinha um sistema de tomada de decisões rápidas, considerando situações do passado, crenças que nem nos damos conta, aprendizados da infância e adolescência, expectativas sociais e os resultados que certas ações tiveram. Por exemplo, quando estamos dirigindo e vemos uma bola cruzando nosso caminho, freamos imediatamente porque sabemos – de alguma maneira – que uma criança poderá vir logo depois. O mais incrível dessa divisão de tarefas entre decisões complexas e decisões automáticas é que passamos cerca de 90% de nossos dias nesse segundo modo, e nem nos damos conta.

Essa habilidade é uma grande vantagem evolutiva, porque nos permite ter incríveis habilidades de análise, pensamento e moral, sem perder a capacidade de tomar decisões rápidas quando é necessário. O problema dessa divisão é que ela é justamente a base dos preconceitos e da falta de oportunidades que podem ser aproveitadas pelas pessoas que têm uma cor de pele, uma textura de cabelo, uma orientação sexual, uma identidade de género ou outra característica diferente daquela que estamos acostumados a ver em certas posições. Por exemplo, se vemos uma pessoa que usa roupas consideradas femininas, maquilhagem, e usa um tom de voz mais agudo, mas tem traços físicos que estamos acostumados a ver em homens, é possível que nosso cérebro associe automaticamente essa imagem a um grupo de experiências passadas de humor, ou de prostituição, ou de comportamento errado que aprendemos no passado. E se essa pessoa está concorrendo a uma vaga de gerente de uma empresa, e a pessoa contratante não se dá conta que pode ter um “sentimento negativo que não sabe explicar” com relação a essa pessoa – neste ponto do texto você já deve ter-se dado conta que é um pensamento automático baseado no que aprendemos no passado - é muito provável que essa pessoa candidata não consiga passar para a próxima etapa do processo seletivo.

Os vieses cognitivos são como o preço que pagamos por um cérebro muito evoluído, mas que consome muita energia. O que podemos fazer para ser realmente conscientes de nossas decisões é sempre tentar entender de onde podem estar vindo sentimentos que não sabemos explicar sobre certas pessoas. Sempre que isso acontece, é nosso pensamento automático agindo e podemos estar negando oportunidades a pessoas simplesmente porque em nossa história não estamos acostumados a ver pessoas diferentes de um padrão de género, cor de pele, textura de cabelo, orientação sexual, identidade de género e outras características ocupando o mesmo espaço que nós. E será mais fácil entender nossos vieses cognitivos se temos representatividade e diversidade em nossas amizades, trabalho e ambientes de convivência.

Inteligência Emocional e Empatia

A Inteligência Emocional é um conceito muito importante que ainda não é muito bem entendido pela maioria das pessoas. Há quem acredite que Inteligência Emocional é não sentir emoções, enquanto outros acham que é simplesmente “controlar” as emoções. Já adianto que nenhuma dessas ideias está correta. Muito mais que controlar emoções, a Inteligência Emocional está mais associada à capacidade de sentir emoções sem permitir que estas causem reações não desejada em momentos inadequados, entre outras habilidades.

O conceito de Inteligência Emocional é muito antigo, e foi documentado de uma maneira mais amigável e ampla por Daniel Goleman em 1995, em seu livro Emotional Intelligence. Nos estudos de Goleman, a Inteligência Emocional é baseada em 4 pilares principais: a autoconsciência, a autogestão, a consciência social e a gestão de relacionamentos. Cada um desses pilares tem certas habilidades, como autoconhecimento, adaptabilidade, positividade, empatia e gestão de conflitos entre outros.

Conhecer-se mais, estar mais aberto para mudanças no mundo, e saber gerenciar relações com outras pessoas são as bases da melhora de nossa Inteligência Emocional.

A importância da Inteligência Emocional para a promoção da diversidade está em vários aspetos, entre eles, a Empatia. Ainda que muitas pessoas tenham a ideia que Empatia é colocar-se no lugar das outras pessoas, ela é mais que isso. Empatia é colocar-se no lugar emocional da outra pessoa, entendendo que sua realidade, seu passado, seus valores são somente seus, e que para outras pessoas esses itens são diferentes. Por exemplo, é possível que para mim, como brasileira, identificar-me com uma religião não seja muito importante. Mas tenho que usar empatia para entender que para pessoas de alguns países asiáticos, ter uma religião é parte de sua identidade e um assunto de extrema importância. Ter empatia é não usar nossa régua para medir reações, dores e demandas de outras pessoas com histórias, dificuldades e valores diferentes dos nossos.

É importante entender também a diferença entre Empatia e Simpatia. Enquanto a Empatia é visitar nossos lugares mais escuros e dolorosos para entender a dor do outro dentro de nós mesmos, ainda que disparada por uma razão diferente, a Simpatia é tentar desviar a atenção de um problema. A Simpatia é, por exemplo, quando alguém nos diz que perdeu um emprego e respondemos “ah, fica tranquila, logo vai aparecer outro!”. A Simpatia é útil em contextos sociais, mas não permite a real conexão humana ou real entendimento dos problemas alheios.

Diversidade e Inclusão: o que são e o valor para os negócios

Agora podemos ir diretos ao ponto: definir o que são Diversidade e Inclusão e analisar mais por que isso é importante para os negócios.

Diversidade é ter pessoas que trazem diferentes perspetivas para um ambiente. Por exemplo, ter em uma equipe de trabalho pessoas de diferentes origens, tipos de personalidade, orientações sexuais entre outras características. Um ambiente diverso é aquele em que não há uma hegemonia de ideias, de decisões, ou de aparência.

A Inclusão, por outro lado, é abraçar a diversidade aproveitando todas as suas vantagens. A inclusão acontece quanto todos os membros de um grupo se sentem igualmente escutados, capazes, motivados a dar seu melhor. É quando ninguém acha que por ser homossexual, ou por ser negro, suas ideias terão menos importância que a de uma pessoa branca heterossexual. Podemos fazer uma analogia com uma frase muito famosa de Verna Myers: diversidade é chamar todos para uma festa. Inclusão é chamar para dançar. E a única maneira de garantir a inclusão é analisando os vieses cognitivos de cada membro de um grupo, e ser conscientes com relação a como a contribuição de cada membro é valorizada.

A diversidade sem inclusão pode ser muito perigosa por que causa o efeito completamente oposto ao esperado: as pessoas que não são parte dos grupos majoritários se sentirão menos importantes, menos motivadas e sem ânimos de compartilhar sua criatividade. Além disso, uma empresa que é diversa mas não inclusiva pode ter sua imagem no mercado comprometida e associada à ideia de hipocrisia e pouca consciência social.

A inclusão da diversidade hoje em dia é um catalisador de resultados nos negócios. A principal razão é que pessoas com diferentes grupos trabalhando juntas, quando se sentem valorizadas, poderão antecipar riscos, ser mais criativas na solução de problemas, analisar situações a partir de uma perspetiva mais ampla e chegar a melhores ideias para produtos e processos. Além disso, empresas que investem em Diversidade e Inclusão ganham consumidores que são parte desses grupos, ou que se preocupam com a situação de vulnerabilidade que certos grupos minoritários no ambiente de trabalho sofrem.

De acordo com estudos das consultorias Gartner, McKensey, Deloitte e Fortune 500, as empresas com diversidade étnica no corpo de direção apresentam 35% mais lucro que aquelas que têm uma direção homogénea. As empresas que implementaram políticas de Diversidade e Inclusão apresentam 2,3 vezes mais fluxo de caixa que aquelas que não se preocupam com esse assunto. Além disso, as empresas que têm uma cultura inclusiva são 6 vezes mais inovadoras e 8 vezes mais suscetíveis a alcançar melhores resultados de negócios. Além de todos esses números, também temos que lembrar que as pessoas de grupos minoritários no ambiente de trabalho trazem um tesouro incrível em suas experiências de vida, e quando se sentem à vontade para ser quem são em seu ambiente de trabalho, poderão trazer vantagens competitivas em termos de capital humano que as empresas que não as incluíram não terão acesso.

Espero ter conseguido convencer-te da importância deste assunto não só para a sociedade, mas também para o ambiente de negócios. Muito obrigada por me estar acompanhando até aqui, adoraria receber uma mensagem sua com suas ideias a respeito desse tema!

Autora | Dani Castelucci de Medeiros

Fotografia | Gerd Altmann