Soluções eletrónicas de apoio domiciliário
Será possível mudar o paradigma dos serviços profissionais de apoio ao domicílio?
Com a situação pandémica da covid-19 ficou evidente que não existem soluções de apoio ao domicílio que mereçam a confiança da população em geral.
A falta de alternativas ao internamento dos idosos em lares ficou demonstrada e carece de uma análise prática para ajudar a compreender as razões e a identificar os meios necessários e suficientes para alterar o “status quo” desta situação, que tanto preocupa filhos e netos, com instituições com capacidade de intervenção ao nível dos serviços profissionais de apoio ao domicílio.
A abordagem é complexa e os problemas colaterais à questão central do apoio ao domicílio são muitos e de difícil resolução. Mas se fosse fácil já alguém tinha encontrado a solução e a oferta do mercado já teria evoluído além do simples botão SOS, promovido por algumas entidades com alguma relevância, quer do setor empresarial, quer social.
Abordagem à mudança de paradigma do apoio ao domicílio
A questão cultural do apoio ao domicílio não é fácil de se resolver porque depende de uma série de fatores que não são possíveis de encontrar numa só entidade prestadora de serviços.
A questão “fator humano”
Porque é que o botão SOS de apoio ao domicílio não chega para resolver a maioria dos problemas? A resposta é simples: falha logo no 1º critério, o “fator humano”.
Qual é o critério para o idoso carregar no botão SOS? Qualquer critério serve…
Sente dor, sente desconforto ou simplesmente sente falta de companhia…
Depois é preciso que alguém corresponda do outro lado do pedido de ajuda…
Serviço que está 99% dependente, também ele, do fator humano. Ou seja, tem tudo para correr mal e o que era suposto ser uma solução rápida para acudir a uma situação de risco, tem a sua eficácia diretamente dependente dos graus de gravidade do pedido.
Quanto mais grave for a situação, mais eficaz será a capacidade de reação.
Mas apesar de importante, o pedido de SOS é, ou devia ser, uma solução disponível numa oferta de serviços com vista à manutenção, gestão e controlo de níveis mínimos de conforto e segurança da pessoa ou pessoas que vivem num determinado espaço domiciliário.
A questão tecnológica
Felizmente vivemos numa época em que a oferta mundial de equipamentos elétricos e eletrónicos dedicados à manutenção, gestão e controlo de níveis mínimos de conforto e segurança é muito diversificada e completa (sobre esta questão ler artigo anterior, link no final deste texto).
Aliás esse pode ser o problema principal. Saber o que escolher e o que fazer ao certo com os equipamentos, já que o grau de interação do idoso com os equipamentos deve ser o menos possível e que os familiares diretos procuram ser informados sobre a garantia dos níveis mínimos de conforto e segurança, mas não pretendem (salvo honrosas exceções) fazer parte da reação profissional na maior parte das situações que carecem de intervenção humana.
Mas, tecnologicamente que soluções devem considerar para garantir níveis de conforto e segurança de alguém que necessite de apoio domiciliário?
1º Componente Tecnológica – Comunicações
Com o 5G à porta, as comunicações são a base da solução.
O contacto perante a velocidade e capacidade de comunicação são fatores a ter em conta mediante os meios elétricos e eletrónicos que poderão fazer parte da solução tecnológica a implantar.
2º Componente Tecnológica – A Segurança Eletrónica
Na base da pirâmide das necessidades do apoio ao domiciliário deve sempre estar a segurança:
► Segurança contra intrusão
► Segurança contra incêndio
► Segurança contra fugas de gás
► Segurança contra inundações
► Segurança pessoal
São muitas as variantes e as opções dependendo das características do espaço a proteger e a sua envolvente (tema para 1 artigo dedicado ao tema).
3º Componente Tecnológica – Domótica
O controlo dos níveis de conforto é fundamental para se garantir o bem-estar das pessoas que nele habitam e o que para outros poderá ser considerado um luxo neste caso é uma necessidade:
► Controlo de temperatura
► Controlo de iluminação
► Controlo de qualidade do ar
► Controlo de aparelhos
Tornar a maior parte destes controlos “automáticos” e/ou possíveis de serem comandados remotamente não só é importante para reduzir a dependência do “fator humano” como é pratico para reduzir ao máximo o tempo de reação a uma necessidade de ser efetuada uma deslocação para o efeito.
Mais uma vez, as ofertas ao nível das soluções disponíveis no mercado mundial são enormes, diversificadas e muito completas (tema para um futuro artigo dedicado só ao tema da domótica).
4º Componente Tecnológica – Equipamentos específicos para apoio domiciliário
Das soluções simples às mais sofisticadas, todas têm por base a comunicação bidirecional entre o idoso e um prestador de serviços remoto, cuja ação pode ser desencadeada por uma série de eventos que carecem de confirmação quanto ao nível de risco. O grau de sofisticação (e de preço) dos equipamentos depende das funções de deteção e reação automática que têm integradas.
Eis algumas:
► Controlo por voz – permite controlar as soluções de domótica por voz.
► Vídeo de monitorização e verificação – solução que pode ser integrada no controlador de base para permitir ao operador remoto e/ou familiares acederem às imagens em caso de alarme.
► Dispensador automático de comprimidos – permite ter sob controlo e a que horas o idoso deve tomar os seus comprimidos e quais deve tomar (para evitar confusões).
► Intercomunicador (VOIP-voz sobre IP) – equipamentos sem fios que permite ser automaticamente ativado em caso de alarme permitindo ao operador remoto e/ou familiares ficarem em “alta voz” com o espaço onde é suposto estar o idoso para falarem com ele em caso de alarme.
► Interface com segurança eletrónica – permite ao controlador de base reagir a eventos de alarme.
► Localizador GPS – permite ao controlador de base reportar a localização GPS do pendente/pulseira (solução de segurança pessoal) à aplicação de monitorização remota e/ou telemóvel com a mesma aplicação de localização de GPS, quer por acionamento do botão SOS e/ou por ter saído de um determinado raio de ação (georreferenciação).
A questão “Serviço de Apoio ao domicilio”
Se as questões tecnológicas não são simples de resolver uma vez que é preciso desenvolver, instalar e programar uma solução à medida das reais necessidades do idoso, em todas as suas componentes tecnológicas, a questão do “serviço de apoio ao domicílio” também não é fácil, pois requer que os prestadores dos atuais serviços reduzam significativamente a sua dependência do “fator humano” e passem a integrar nas suas operativas, os dados dos equipamentos elétricos e eletrónicos responsáveis pela manutenção, gestão e controlo dos níveis mínimos de conforto e segurança instalados no domicílio e monitorizar, ou seja os prestadores de serviços domiciliários têm de se tornar eles próprios tecnológicos.
É converterem-se em centrais de receção e tratamento de dados de apoio domiciliário de valor acrescentado, isto porque têm de integrar nos seus serviços e capacidade de intervenção multidisciplinar, direta ou indiretamente:
► Receção e tratamento de dados (alarmes, imagens, informações medicas, dados do equipamento, etc.)
► Tele-ações (comandos remotos)
► Serviços de limpeza
► Serviços de assistência pessoal
► Serviços médicos de 1ª intervenção
► Serviços técnicos
Não é fácil conciliar uma oferta concertada entre os meios tecnológicos e os meios humanos de monitorização dos níveis mínimos de conforto e segurança instalados num domicílio assistido, mas existe essa necessidade e é esse o caminho…
Não será só uma questão de custos porque se avaliarmos a oferta dos serviços de “internamento” em lares, verificamos que os custos fixos mensais são nalguns casos exorbitantes antes e a procura é muito superior à oferta.
Não esquecer que o investimento em soluções tecnológicas é amortizável pelo menos a 5 anos e que os serviços remotos de receção e tratamento de dados têm economias de escala proporcionando o “cross selling” de serviços complementares que poderão significar reduções significativas nos custos operacionais e em contrapartida um aumento significativo da qualidade dos serviços, a todos os níveis, não havendo nenhuma quebra na cadeia de valores da prestação de serviços.
Finalmente de referir que os idosos poderão permanecer em suas casas mais tempo e aumentar os níveis de conforto e segurança em que vivem, proporcionando aos seus familiares mais diretos uma paz de espírito que não tem preço.
Sim é possível mudar o paradigma dos serviços profissionais de apoio ao domicílio!
Temos de saber viver com a tecnologia e tirar o máximo proveito dela, a todos os níveis, pessoais e profissionais.
Nos dias de hoje não faz mais sentido considerar a tecnologia como um “mal necessário”, nem pensarmos na domótica como um luxo, mas sim como um meio eficaz de garantirmos níveis mínimos de conforto e segurança à medida das nossas necessidades e capacidades financeiras.
Veja também | Domótica: valor acrescentado no mercado imobiliário
Autor | Alexandre Chamusca - Engenheiro Eletrotécnico, Gerente da XKT, Projetos e Instalações Técnicas Lda