
A Idade em Excesso de Velocidade
Não sei se você sente o mesmo, não consigo evitar o sentimento que tudo passa muito rápido. Demasiado rápido! Não em contramão, sinto-me constantemente em excesso de velocidade, a quilometragem da vida é sempre a somar, num ritmo frenético sendo que em alguns meses chega a ser exponencial. As multas vão-se acumulando na forma de cabelo e barba branca, as rugas ao espelho não permitem fingir que nada está a acontecer. Vejo alguns otimistas com aquela máxima “a idade é um estado de espírito”! Oxalá fosse, não o sinto mas gostaria de estar errado.
Segundo Roger McGough (poeta e dramaturgo Inglês), não há cura para o envelhecimento, porque envelhecer não é uma doença, é um modo de vida. Eu acrescentaria que é uma inevitabilidade.
Até aos 18 anos um mês tinha a duração de um ano, a maioridade teimava em não chegar, a carta de condução e a autonomia financeira pareciam uma utopia.
Ao olhar para o retrovisor da vida, vem-me a lembrança das terríveis tardes de domingo, onde literalmente não se passava nada, tudo estava fechado e não havia movimento na rua, o comércio repousava e as obras paravam, parecia que subitamente algum fenómeno tinha causado a extinção da maior parte da população. Via os adultos felizes por não terem afazeres, por poderem tirar uma sesta durante a tarde… Não conseguia compreender, a inércia não cabia no pensamento de uma criança hiperativa, domingo era um mau dia para ver televisão (só havia um canal disponível) era dia de “depressão”.
Os anos passaram, com o fim da era “teenager” vem a responsabilidade, o trabalho, constituir família, preocupações financeiras, entre muitas outras… Acima de tudo a mente começa a estar permanentemente ocupada, de forma consciente ou mesmo inconscientemente, e com a ocupação vem a velocidade… Furiosa por sinal!
O mesmo ser que se queixava do tempo não passar, hoje agonia-se com o contrário. As coisas mudaram, estarei a viver? Ou estou a passar ao lado de uma vida? É uma pergunta inquietante e de difícil resposta. Sinto-me a assistir a um jogo de ténis, é natal, é verão e novamente natal. Como é que o tempo passou e nem dei conta?!
Há quem diga que começamos a envelhecer no momento em que nascemos, mas recentemente surgiram diversos estudos que indicam que é a partir da terceira década de vida que o processo de envelhecimento começa a ganhar forma, a manifestar-se de uma forma significativa. Trata-se de um fenómeno natural, designado por “imunossenescência”*1.
A grande questão que se impõe não é quando, mas sim, como iremos envelhecer.
O caminho tem de ser feito, a única escolha que nos cabe é escolher a estrada que vamos trilhar.
Qual a receita da longevidade? Dificilmente conseguiria dá-la, mas, graças à Maria José Monteiro e à sua brilhante abordagem no artigo “Como chegar aos 120 anos de idade… com saúde?” não tenho de o fazer. Apenas digo que nem sempre o que devemos é o que queremos…
Tento-me alegrar com aquelas frases comerciais (clichés a meu ver):
“Envelhecer é uma conquista que deve ser celebrada”
“A cada dia que passa estou mais feliz. Descobri que envelhecer é incrível”
“Envelhecer é um privilégio negado a muitos”
O comprimido das palavras bonitas não está a fazer efeito, não é um genérico mas nem sequer um efeito placebo, pequenino que fosse. Enquanto escrevi estas palavras (e como sempre) o tempo passou de forma implacável, os afazeres acumularam-se e trouxeram stress, por muito que esteja a gostar tenho mesmo que terminar. Nada melhor do que acabar como se começou, fica sempre bem.
Hoje continuo a não fazer sestas à tarde, mas já gosto dos domingos… Aceito a condição de envelhecer, mas procuro todas as maneiras possíveis para reduzir a velocidade.