Estado da Economia Portuguesa

Estado da Economia Portuguesa

País extremamente solarengo procura dieta com urgência

Eu, sem ser economista, gestor, contabilista ou sequer matemático, aproveitei o feriado para fazer umas contas. A calculadora mais básica e barata que o leitor pode imaginar, fez-me chegar a algumas conclusões que me deixaram chocado, estou a falar de contas básicas mas mesmo assim aceito todas as críticas e reparos dos entendidos na matéria.

Portugal está a preparar a sua candidatura para o Guinness World Records, quando dito assim, provoca no leitor uma certa alegria e orgulho. Somos um país de feitos incríveis, temos inúmeras razões para nos orgulhar da nossa nacionalidade, mas hoje infelizmente não é um desses dias.

Já em 2021 e depois de fazer todos os cálculos relativos ao ano transato, chegamos à brilhante conclusão que atingimos um estatudo único: A maior dívida pública de sempre. Ou seja, com base nos números do ano passado, Portugal deve a módica quantia de 270.480,00 milhões de euros. Em bom rigor sem querer ser pessimista, tudo para já indicia que em 2021 vamos acrescentar mais uns “farelinhos” a esse valor.

Parece que a entrada no século XXI veio afetar a capacidade de fazer contas em Portugal. Será que com a passagem de ano de 1999 para 2000 apareceu algum vírus informático que ainda não foi detetado? Preciso investigar…

Valores do PIB, variação do PIB e dívida em percentagem do PIB Fontes |

Valores do PIB, variação do PIB e dívida em percentagem do PIB: "Country Economy" e PORDATA.

Nos últimos 20 anos, apesar do PIB Português ter crescido 74.041 milhões de euros, a dívida subiu cerca de 200.000 milhões de euros, quer isto dizer que a riqueza que Portugal produz anualmente aumentou 57,7% (o que não é nada mau) mas ao mesmo tempo o país deve mais 288% (péssimo).

Mal terminei de escrever esta frase fiquei bastante preocupado… Acho que nem vou conseguir dormir bem nos próximos tempos!

Sei que o cenário ideal seria termos um PIB altíssimo em simultâneo com uma dívida baixíssima, mas como o mundo nem sempre é perfeito, não seria preferível termos um PIB mais baixo e uma dívida pública bem mais baixa? Mais ou menos o cenário que tínhamos no virar do século? Pergunto de forma inocente! Ataquem-me os economistas.

Fazendo um ranking dos 5 anos em que a dívida mais cresceu, obtemos:

A estes chamemos os anos negros…

2010 (+ 29188 M)
2020 (+ 20588 M) - Covid-19
2009 (+ 18613 M)
2011 (+ 18250 M)
2012 (+ 15649 M)

Fazendo um ranking dos 5 anos em que a dívida menos cresceu, obtemos:

2019 (+ 594 M)
2017 (+ 1855 M)
2018 (+ 2209 M)
2007 (+ 5042 M)
2015 (+ 5795 M)

A estes chamemos anos dourados? Fica difícil definir quando o melhor é ainda mau, talvez menos mau, diria!

Quando analisamos a dívida pública em percentagem do PIB, sou de opinião que nos induz em erro…

Ora vejamos, segundo a coluna da dívida pública em percentagem do PIB, Portugal em 2007, 2015, 2017, 2018 e 2019 reduziu a dívida, o que não é verdade. O efeito do aumento do PIB é que dá essa errada sensação. Que os políticos gostem de nos apresentar estes números em função do PIB, consigo compreender, e os analistas? E os comentadores? Sabendo deste facto (muito melhor do que eu) usam a mesma linguagem da política…

Acho que apresentar os dados como nos têm apresentado é uma tentativa de "atirar areia para os olhos"…uma figura de estilo capitalista!

A bazuca Europeia? Precisamos é de uma “bomba atómica” … vitamina? O necessário é uma injeção com um cocktail de todos os antibióticos existentes.

Mas compreendo que esta linguagem afaste a atenção de muitos leitores…

Se em vez de finanças públicas estivéssemos a falar de nutrição, perdoe-me o leitor a analogia, talvez, absurda, teríamos uma história mais ou menos assim:

A Isaura no ano 2000 pesava 60kg, podemos dizer que estava relativamente numa boa forma física. A partir desse ano começou a ingerir o triplo das calorias em relação ao que gasta, isso resultou, como facilmente consegue perceber, num aumento de peso significativo. Após 20 anos a alimentar-se dessa forma, o peso da Isaura passou de 60kg para 180kg, ou seja, triplicou o seu peso. A Isaura hoje é considerada obesa mórbida e aumentou de forma drástica a probabilidade de ter uma série de doenças que, no limite, a podem levar à morte de forma prematura. Neste momento, para que a senhora volte a ganhar o controlo da sua vida e saúde, é extremamente importante que entre em dieta, ou seja, que tenha uma ingestão 20% inferior ao gasto. Não deve ser promovido um "deficit" calórico superior porque para além de deixar a Isaura “a passar fome”, agrava o risco de desistir da dieta.

Agora passo a apresentar-lhe o elenco desta analogia:

Se imaginarmos que a energia que a senhora devia consumir é o PIB, a energia extra que ingere representa o dinheiro que recebe a título de empréstimo, a obesidade é a acumulação de dívida, o risco de doença são as agências de rating e a morte significa o colapso financeiro do país. Dieta significa gastar menos do que o que se ganha, de forma a ir reduzindo a dívida (gordura acumulada).

Talvez seja mais fácil compreender a verdadeira situação das finanças públicas portuguesas passando a usar uma linguagem de um nutricionista.

Percebo pouco de matemática e economia? Verdade… Estarei louco? Talvez… Ou caminhamos para o precipício? Oxalá o problema esteja em mim e não no País…

Fotografia | Frank Nürnberger