Liberdade e Saúde

Liberdade e Saúde

Da incerteza, faz decisão...
Da busca, liberdade...
Da oportunidade, abertura...
Do receio, desafio...
Da distância, proximidade...
Do encontro, descoberta...
De ti, aquilo que és...
Da relação, transformação.

por Vítor Fragoso

Diz-nos Viktor Frankl que o Homem pode vir a ser consciente e livre e por essa via ir além dos seus condicionalismos. Mais do que determinado pelo inconsciente, ou reagente aos acontecimentos, o destino do ser humano é um poder ser e um vir a ser.

Ele poder vir a ser o agente da sua própria existência, ou seja, alguém que age. É alguém que age com escolha e decisão, mais do alguém que reage por impulso ou automatismo.

O indivíduo na sua liberdade é convidado a decidir, ainda que seja pela passividade. A sua ação ou inação, revela-o, desse modo apresenta-se na sua expressividade possível. Para Viktor Frankl o ser humano possui liberdade em todas as situações; contudo, na maioria das vezes, desiste de forma voluntária por não ter consciência dessa liberdade.

Neste contexto a liberdade possui dois aspetos, o primeiro, a possibilidade de não se submeter às determinações, isto é, de poder assumir a sua “liberdade para”; e o segundo aspeto, o de ser livre por essência, o que faz da liberdade uma potencialidade a ser assumida e apropriada, sendo que quando esta se realiza, faz do Homem um ser consequentemente responsável pela sua liberdade. Desse modo torna-se um ser orientado para a realização do seu significado existencial individual e coletivo. 

O ser humano é chamado à liberdade e à responsabilidade pessoal, de ter que vir a dar por essa via uma resposta à vida e às suas situações concretas que vivencia, e, a partir daí descobrir o sentido que elas têm. 

Num âmbito mais amplo é necessário de algum modo encontrar sentido para a vida, um sentido para a dor e para o sofrimento, no fundo, necessita de encontrar sentidos para tudo.

Aqui convém recordar que a liberdade não está dissociada da saúde, e que em saúde, a liberdade relaciona-se com:

Equilíbrio e integração das forças psíquicas;

Auto-percepção de si como unidade coerente;

Uma perceção da realidade adequada;

Capacidade de autorrealização;

Resistência e adaptação à frustração;

Capacidade para um confronto ativo com o stress;

Autonomia;

Competências comunicacionais;

Liberdade para ser e vir a ser;

Desenvolvimento do projeto existencial.

A saúde é uma totalidade de vida, onde a doença pode ser acolhida e escutada como linguagem. É uma inteireza com os seus sinais e sintomas a serem integrados numa história pessoal mais ampla. Sinais e sintomas que precisam de um lugar, de voz e de vez.

Como afirma a psicanalista Danit Pondé, inspirada pela abordagem de Winnicott, em saúde, para “ter saúde”, do que falamos é de que os modos de ser e continuar sendo ao longo da vida não devem ser avaliados pelos critérios de ausência de doença ou sintomas, mas pela expressão da riqueza da realidade psíquica interna. Falamos da personalidade do indivíduo, pois a riqueza da qualidade da relação que estabelece, mais do que a saúde, é aquilo que fica no topo da escala dos fatores desencadeantes e mantedores de um estado geral de saúde e bem-estar.

A saúde é sempre uma consequência do cuidado, das ações, dos hábitos e modos de vida que a pessoa assume como seus. A qualidade das relações é o que fica no topo daquilo a que podemos chamar de desenvolvimento integral humano.

Essa riqueza prende-se com o facto de possuirmos recursos e a eles podermos recorrer com liberdade e transigência, com confiança em si e no mundo, de desse modo sustentar amores, dissabores e tudo o mais.

Pensar a relação entre liberdade e saúde é refletir a relação existente entre a liberdade, a saúde, o individual e o social.

Somente dentro de uma sociedade em que se possa viver a dialética existente entre as normas, os hábitos coletivos e o respeito pela necessidade de autodeterminação é que se pode alcançar a saúde com maturidade relacional e vincular. Esse ciclo benigno é virtuoso — diferente do ciclo doentio —, pois, na saúde, as pessoas são capazes de adaptar-se ao mundo, mas preservam a criatividade pessoal de contribuição recriadora desse mundo.

Neste sentido e considerando, maturidade emocional, relacional e pessoal como uma benigna expressão de saúde integral, esta caracteriza-se como referência principal, como a possibilidade de o indivíduo se ter consolidado na trajetória processual da sua existência, através da assunção do “sentimento de estar a viver a sua própria vida”, embora com a certeza de que nem por isso o seu viver é isento de sofrimento e de dificuldades.


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