Minela Reis: Pintora Emocional
Pintar é uma forma de sentir e viver o mundo! Chegada a Portugal com 24 anos, em 1982, já trazia, há muito, em si a paixão pela pintura. Minela Reis, artista angolana, define-se como “uma pintora emocional, só pinto quando algo me diz alguma coisa, não tenho um estilo definido. Gosto de pintar em várias técnicas tendo obviamente preferência por algumas delas, tais como Óleo e Pastel seco.”.
A vinda para Portugal e a necessidade de sobrevivência com três filhos pequenos nos braços, num país estranho, obrigou-a a muitos e variados trabalhos em outras áreas que não a arte. Só em 2013, 31 anos depois da sua chegada a Portugal, já com os filhos crescidos: “resolvi dedicar-me exclusivamente à arte, mas com a segurança de ser sustentável, abri em Caldas da Rainha, um espaço a ‘Tela — Espaço de Criação Artística’, que é uma escola de Artes Plásticas, onde dou aulas de técnicas de pintura, com uma galeria e o meu próprio ateliê. É um prazer ensinar o que sei.” Explica.
Minela garante que para pintar e se sentir realizada “não tem de ser necessariamente numa tela. Uma simples folha, um lápis, caneta e aguarelas. Tudo me serve num determinado momento. Ainda hoje não são as telas que pinto que têm maior importância para mim, os cadernos de esboços, os estudos, as pequenas pinturas por impulso, essas sim, serão minhas para sempre.”.
A pintora, como prefere ser chamada, ao invés de artista, tem três filhos, Marcos, Pedro e Erik. Todos seguiram caminhos diferentes da mãe, embora “os três sejam muito criativos e tenham jeito para o desenho, o Marcos é engenheiro, o Pedro é designer e o Erik é fotógrafo”, partilha com um sorriso, a sua influência artística, de certa forma, está neles.
A infância traz saudade! Com muita liberdade, “sempre na rua, a subir às árvores ou a percorrer caminhos, a andar de bicicleta com os meus amigos sempre à descoberta.” Recorda que sempre desenhou e pintou: “acontecia naturalmente, mesmo na escola era a minha disciplina favorita. Desenhava principalmente rostos e figura humana.” Sublinha.
À conversa com Minela Reis...
Entre as exposições que já fez, consegue destacar uma?
Já fiz imensas exposições, muitas individuais e outras coletivas. Não há uma que se destaque especialmente, todas tiveram a sua importância. Mas posso mencionar a exposição no Mosteiro dos Jerónimos (70 cavaquinhos, 70 artistas) um projeto da mentoria do músico Júlio Pereira, talvez pelo local em si mas também pela pintura de cada artista ter sido efetuada num cavaquinho foi interessante, o que levou a que milhares de pessoas a visitassem. Também a Galeria Tinturaria, na Covilhã, onde além de ter sido extremamente bem recebida, vendi quase todos os meus trabalhos. Além da Exposição Internacional de Aguarela em Fabriano-Itália, foi das mais interessantes que participei, principalmente pela interação com outros artistas e o conhecimento de outras abordagens na aguarela.
Sente-se realizada?
Realizada não é um termo que gosto de aplicar, nunca me sinto satisfeita, mas é isso que faz evoluir um pintor, para mim nunca chega. Quero sempre experimentar e aprender sempre mais. Pinto porque é uma necessidade, pelo prazer. Estou sempre a aprender, até quando ensino os meus alunos. Se as pessoas gostarem do resultado tanto melhor, mas raramente é essa a intenção.
Quem é a Minela Reis?
É sempre difícil caracterizar-me, não sou sempre a mesma, mudo consoante as emoções e procedo mediante isso mesmo. Não gosto de pressões, gosto de pessoas, mas gosto muito de estar sozinha, às vezes digo que sou antissocial.
“A pintura na minha vida, são as minhas asas, mas também o meu chão.”
Minela Reis
Tem algum ritual quando está a pintar?
Ouço sempre música quando pinto. A escolha da música é conforme o meu estado de espírito e também está relacionada com aquilo que pinto no momento. Por exemplo: Waldemar Bastos, Aline Frazão (Angola), Edith Piaf, Otis Redding, John Legend, entre outros.
De onde vem a sua inspiração?
Apetece-me sempre pintar ou desenhar. Falta-me sempre tempo para tudo o que quero fazer. A inspiração vem do que penso ou sinto. Do que vejo, do mar ou da lua, as saudades do meu país são outra fonte de inspiração.
Quais os temas que gosta mais de abordar nas suas pinturas?
O que mais gosto de pintar são as pessoas, a curiosidade que elas me despertam, mas também o mar, do que ele me faz sentir. O mar, como dizia a poetisa Sophia de Mello Breyner "...metade da minha alma é feita de maresia". Transmite-me calma, equilíbrio, é a olhar para ele, que eu lavo a alma. É onde muitas vezes vou buscar inspiração.
Ao ler as saudosas palavras ditas por Minela Reis recordei uma música interpretada por Maria Bethânia, que consigo partilho... A maré da saudade é a mesma, apenas muda o país...
Memórias do Mar / Atlântico ► Maria Bethânia...
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