Mais Saúde para Todos

Mais Saúde para Todos

“É ao abrigo umas das outras que as pessoas vivem”

Provérbio Irlandês

Atualmente a importância do desenvolvimento de ações voltadas para a promoção da saúde, vem sendo destacada a nível mundial, facto que a realidade pandémica veio realçar ainda mais. Na década de 1980, a Organização Mundial de Saúde definiu a promoção da saúde (...) como o processo que consiste em proporcionar aos povos os meios necessários para melhorar sua saúde e exercer um maior controle sobre a mesma (WHO, 1986).

A máxima da promoção da saúde é: mais saúde para todos.

Uma questão se coloca: do que falamos quando falamos em promoção de saúde?

Falamos em:

Incentivar mudanças nos estilos de vida e nas condições ambientais, com o objetivo de facilitar o desenvolvimento de uma “cultura de saúde”;

Fortalecer alianças intersetoriais para torná-las mais eficazes;

Avaliar o impacto das políticas públicas na saúde;

Desenvolver ações de comunicação social visando a promoção de condições, estilos de vida, comportamentos e ambientes mais saudáveis;

Reorientar os serviços de saúde para o desenvolvimento de modelos de atenção que favoreçam a promoção da saúde;

Entre outros…

De acordo com a visão mais recente para se alcançar um melhor nível de saúde não basta apenas estimular e/ou induzir os indivíduos a adotarem condutas saudáveis, sem considerar o contexto social, político, económico e cultural no qual estão inseridos.

A este propósito recordamos, à semelhança de artigos anteriores, o Médico e Psicanalista Argentino de origem Suíça, Enrique Pichon- Rivière que nos dizia o seguinte: “a luta pela saúde não é apenas a luta contra a doença, mas contra os fatores que a originam e reforçam.” E é precisamente aqui que nós enquanto sociedade temos falhado, os fatores estão a entrar em recrudescimento, após um período de notada melhoria.

É o meio, individual, familiar, social e económico que gera ou favorece o adoecimento, assim como o que facilita ou dificulta a prevenção, o controlo e/ou a cura das doenças.

Neste sentido, a adoção de políticas públicas saudáveis e a criação de ambientes favoráveis à saúde como no caso a promoção de uma saúde mental e emocional saudável são dimensões fundamentais da responsabilidade social em saúde. Isto significa que a saúde não deve encerrar-se nas ações do próprio setor, mas envolver todas as áreas, governamentais e outras, cujas ações repercutam na saúde e qualidade de vida da população.

O que são políticas públicas?

As políticas públicas são o conjunto de objetivos, decisões e ações que os governos levam a cabo para solucionar os problemas que os cidadãos e o próprio governo consideram prioritários.

A saúde pública diz respeito a toda a sociedade e o Estado, através dos seus governos, tem a obrigação de zelar por ela. Como referimos, as condições sociais e económicas têm um grande efeito na saúde e na doença. Tanto as medidas sociais (liberdade, segurança e prosperidade para todos) quanto às médicas são necessárias para promover a saúde e combater as doenças.

A saúde é promovida proporcionando condições de vida dignas, boas condições de trabalho, educação, cultura física e formas de lazer e descanso. O instrumento para conseguir o acesso da população a essas condições de vida é a “Promoção da Saúde” nas suas várias esferas de atuação.

Segundo Henry Sigerist:

“A promoção da saúde é a missão primordial da medicina, tarefa a que são chamados cidadãos, educadores, políticos, médicos... A segunda missão, por ordem de importância, depois da promoção da saúde, é a prevenção de doenças enquanto cura — restauração e reabilitação — é a última das funções da medicina, pois só é necessário recorrer a ela quando todas as anteriores falharem".

A nossa saúde depende da saúde do outro, uma vez que nós vivemos em comunidade. Por esse motivo é importante lembrar que a saúde é um indicador de bem-estar e qualidade de vida de uma comunidade e sociedade como um todo.

Promover a saúde num sentido global e inclusivo é, portanto, tarefa complexa que inclui a conquista de uma boa qualidade de vida e o amplo acesso a serviços que favoreçam a forma como as pessoas lidam com as questões da vida e da sua existência de modo a que esta se realize da melhor maneira possível.

O que fazer para promover uma vida mais saudável?

É vital ampliar a consciência das pessoas sobre os diferentes modos de viver e existir e sobre os recursos para manutenção da saúde nos processos que a vida humana transporta e acarreta, de modo a que ao mesmo tempo se fortaleça e emancipe a população para as suas lutas, nomeadamente por uma cidadania e justiça social mais inclusiva e humanizada.

É necessário promover o desenvolvimento de habilidades pessoais e estimular o reforço da ação comunitária. Estes são campos centrais da promoção da saúde, uma vez que compõem com os demais um conjunto integrado de estratégias individuais e coletivas para se alcançar maior saúde e bem-estar. Saúde tem a ver com qualidade de vida e a educação e deve ser pensada, por isso, em seu sentido emancipatório, de constituição de sujeitos capazes de atuar individual e coletivamente em prol de uma vida melhor. 

Neste sentido no fortalecimento da autonomia de indivíduos e grupos sociais não basta apenas informar. A reflexão e o debate crítico sobre a saúde são ingredientes fundamentais.


Sugestões de Leitura |
Coimbra de Matos, A. (2012). Mais Amor Menos Doença: a psicossomática revisitada. Climepsi.
Dias Cordeiro, J. (1994). A Saúde Mental e a Vida: pessoas e populações em risco psiquiátrico. Edições Salamandra.
Honoré, B. (1996). A Saúde em Projecto. Lusociência.

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