Santiago e as Lendas do Caminho
Reis, Nobres, Clérigos, Doutos e Artistas: as personagens Históricas dos Caminhos Portugueses a Santiago...
Para construir o futuro é fundamental descobrir o passado do Caminho. Ao longo dos séculos, personalidades marcantes da História têm moldado a face cultural e identitária dos Caminhos Portugueses de Santiago, ajudando a descobrir este itinerário desde a idade Média até aos nossos dias. Descubra as personagens que rumaram a Compostela cruzando as vias portuguesas a Santiago.
Parte 2...
Se recuarmos bem atrás no tempo, até ao princípio da história jacobeia podemos assinalar que o primeiro peregrino do Caminho Português poderá muito bem ter sido o próprio Apóstolo Santiago. Segundo a tradição e os relatos presentes em importantes textos medievais como o Breviarium Apostolorum ou ainda a narrativa de Santo Isidoro de Sevilha presente na sua obra “De Ortu et Obtum Patrum”, o filho de Zebedeu terá chegado à Hispânia romana, no ano de 45, para evangelizar os povos ibéricos, tarefa que não se afigurou fácil, apesar de ter conseguido converter Pedro de Rates e Basileu de Braga (que se tornariam respetivamente primeiro e segundo bispos da Bracara Romana, com Basileu sagrado como primeiro bispo de Portucale), Torcato de Acci, Tesifonte, Indalécio, Segundo, Eufrásio, Cecílio e Hesíquio (reconhecidos como os sete Varões Apostólicos) e ainda Teodoro e Atanásio, os discípulos responsáveis pela “traslatio” dos restos de Santiago após o martírio do Apóstolo à mãos de Herodes Agripa.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | À esquerda: S. Pedro de Rates, Igreja de S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim.
Personagem histórica fundamental do Caminho Português de Santiago, apesar de muitos defenderem a sua natureza lendária é Pedro de Rates, homem, supostamente de origem judaica, terá sido ressuscitado pelo próprio Apóstolo, tornando-se venerável discípulo de Santiago, consagrado como primeiro bispo da Bracara Romana. Patrono de um dos mais eminentes mosteiros beneditinos nos primórdios da história portuguesa, é creditado como discípulo de Santiago durante a sua ilustre missão de evangelização na Península Ibérica. A narrativa, inegavelmente mítica, desempenhou um papel crucial ao nutrir as aspirações de Braga em assumir a distinta posição de diocese metropolitana (ou Primaz das Espanhas), em contraposição a Mérida ou, mais tarde, a Compostela. Essa contenda, embora permeada de lendas, inflamou os ânimos ao longo de toda a Idade Média, estabelecendo-se como elemento fulcral no panorama da identidade religiosa nacional em confronto com a Galiza. A figura de Pedro de Rates, como discípulo lendário, perpetuou-se como um epítome simbólico, influenciando as aspirações episcopais e consolidando o papel de Braga nesse intrincado tabuleiro de prestígio eclesiástico na Península.
Fotografia de Artur Filipe dos Santos | Igreja de S. Pedro de Miragaia. A lenda conta que neste local nasceu a diocese do Porto, fundada por Basílio.
Já Basileu coloca o Porto (a antiga Portucale) como centro nevrálgico do Caminho Português, que nesta cidade vê partirem três variantes rumo à Galiza. Ao sagrar-se pelo próprio irmão de S. João Evangelista como primeiro bispo da diocese portucalense, que terá mandado erguer a primeira “catedral”, junto ao rio, possivelmente no lugar onde agora se encontra a Igreja de S. Pedro de Miragaia, onde se encontra a seguinte epígrafe: “Prima Cathedralis fecit haec. Basilius oh egris quam pedibus sanus, condidit inde Petro” ("Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro").
Outra personagem histórica jacobeia encontrámo-la em Coimbra: o Bispo Nausto. Torar-se-ia o primeiro Bispo, depois da primeira reconquista cristã de Coimbra (867-906). Assistiu à dedicação da igreja de Santiago de Compostela (900) e ao concílio de Oviedo em 901. Resignou a 11 de janeiro de 906. Faleceu a 21 de novembro de 912.
Segundo inscrição ainda presente na Igreja de Santiago de Castelo de Neiva, em Viana do Castelo (Caminho da Costa), este prelado terá sagrado, em 862, a primeira igreja em honra ao Apóstolo fora do território galego.
Não está particularmente conectado com o Caminho Português, mas o seu papel na salvaguarda dos territórios cristãos a norte do Douro perante as investigas mouras faz de Vímara Peres uma figura central. Natural de A Coruña, este conde galego foi incumbido pelo rei asturiano Afonso III, O Grande, de conquistar, em 868, Portucale, tornando-se presor, permitindo a restauração da diocese portucalense, ao mesmo tempo que assegura passagem segura dos peregrinos desde a agora cidade do Porto rumo a Compostela.
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