
Sonhar o Sonho que é Projeto
“Um corpo que não sonha é como uma casa desabitada – a ruína é o seu destino.”
Coimbra de Matos
Que nunca acabem os sonhos entre nós. Para Augusto Pompeia, a expressão “meu sonho” significa os meus projetos, os meus planos, os meus desejos, aquilo que antecipo, algo que faz parte do sentido da minha vida, aquilo sem o qual a minha vida ficaria sem graça.
Foi sempre esse o meu sonho…
Aquilo chegou e acabou com o meu sonho de…
É esse poder de sonhar que caracteriza a existência humana, sempre aberta para o futuro, sempre à espera de poder realizar possibilidades. Como afirma João Augusto Pompeia: “o homem é definido como animal racional, todavia o que marca a sua humanidade é ser esse sonhador que ele é”.
Curiosamente, esta dimensão de sonhador está relacionada com a linguagem, uma vez que ao Homem só é possível ser sonhador porque o Homem é o animal que fala, que tem linguagem e que toma a palavra. “(...) A linguagem é aquilo que, para todos nós, ‘poetiza e pensa’, bem antes do próprio indivíduo começar a poetizar e a pensar”, afirmou poeticamente Ludwig Binswanger (psiquiatra existencialista, suíço).
O homem, quando fala dos seus sonhos, das suas esperanças, do seu desespero ao ver os projetos inviabilizados, fala de algo que ainda não existe. No entanto, ao falar de tudo isso que não existe, o outro que o escuta pode ver algo, saber do que o amigo está a falar. É na escuta que acolhe e na partilha que se faz que a vida entre pessoas se amplia e expande.
Quando se fala, por exemplo, de um filho que se quer ter, esse filho ainda não existe, mas esse projeto reúne a sua esperança, o seu desejo, o seu sonho de ser pai, a sua preocupação, os seus cuidados. Isto tudo mostra a esperança do que não existe ainda.
O sonho-projeto possibilita esta continuidade no tempo íntimo e de projeto da pessoa. A pessoa é capaz de olhar além do “retrovisor” do seu percurso; o passado é a origem, não o destino. Nesta contradição dialética entre passado e futuro, a síntese é o presente. No presente encontram-se a origem e a possibilidade; é no presente que se esboçam os destinos futuros. Aquele ou aquela que adoeceu, adoeceu porque o seu passado luta com o futuro, e a terapia consiste em ajudá-lo a sintetizar saudavelmente essa contradição – ontem e amanhã – por meio do projeto. A nossa continuidade advém do percurso entre a memória e a esperança; somos sujeitos de memória e esperança, como afirma Alfredo Moffatt.
Nos dias atuais, é urgente imaginarmos um novo desenlace para os desafios que vivemos com as crises recorrentes que experimentamos. Imaginar é saudavelmente projetar novos mundos, novas realidades que se podem concretizar, pois tudo o que foi realizado em tempos já foi imaginação, sonho e projeto.
Em tempos de desesperança, é importante relembrar que o sonho pode casar com a realidade e que as utopias são outros lugares de coabitação e coexistência que podem ser realizáveis dentro do possível. Relembro que utopia (outro lugar) serve para caminhar, essencialmente para isso, e se não imaginamos, sonhamos com um outro lugar. Quando este nos aperta ou oprime, deixamos de caminhar, e caminhar é preciso.
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