Vírus... Fraude e Cura

Vírus... Fraude e Cura

Honestamente, nem sei porque é que estou para aqui a pensar sobre este assunto, quanto mais o escrever... A questão é, caro leitor, que por muitas voltas que dermos nunca teremos uma definição exata deste “tipo” que nos anda a assolar desde que descobrimos a sua existência.
A partir daí, acabou-se. Estamos infetados.

E ele nunca mais nos larga. Tornamo-nos vulneráveis a novas infeções, logo que nos livramos dele, uma e outra vez. E ainda mais outra. Cada uma pior do que a vez anterior, até que nos rouba as capacidades e o discernimento. De vez! E é aí que estamos acabados.

O amor, (rio-me) essa coisa peganhenta que se agarra a nós, infiltra-se pela pele adentro e nunca mais a tiramos. Tentamos originais, sucedâneos e placebos, mas vemos, vencidos, que tudo resulte no eterno fracasso. Uma fraude.

Uma enorme fraude aguada e barrenta que não faz qualquer efeito contra esse agente tão poderoso: o amor.

Nessa altura sucumbimos, alienados a tudo e todos, ao seu encanto. E nunca mais nada volta a ser igual, como se experienciássemos uma droga poderosa, mais alucinogénia que as demais e muito, muito letal.

O já entediado leitor, lê, pensativamente, este texto. Pois é. Uma treta. Uma fraude pegada; este texto e o tal de amor, ou lá o queiram chamar...

Até concordo com o lúcido leitor (é não é?), mas...vamos lá esmiuçar as entranhas; eu até aposto que já sofreu umas dentadas do dito... Não passou incólume, pois não? Está atordoado pela ideia de ele se manifestar no seu âmago, feliz e em desespero.

Já lhe sentiu o gosto...paladar salgado, quente, inebriante, denso. Quase sem respirar. Os relâmpagos pelo corpo inteiro, a pele a retesar de arrepios, e ainda assim, um calor tão confortável. São memórias familiares, não são?

Recentes ou não, pouco importa. O facto é que não conseguiu escapar. E não me deteste já, inquieto leito, pela minha inconveniência!

Eu, que devia estar a escrever sobre saúde animal, que é aquilo que me foi incumbido pela Direção da revista! Mas não, tinha de vir para aqui falar de temas incómodos, para desassossegar as calmas manhãs dos leitores...

Já me detesto a mim própria pelo que fiz, e mais ainda pelas considerações neste texto, e, já agora, por que não também, do objeto de tanta inquietude causada a quem tem a má decisão de ler isto até ao fim.

Em suma, é profundamente detestável ser um refém feliz.

A si, meu amigo leitor, confesso a minha culpa (eu guardo o seu segredo, se também guardar o meu...).

 
Autora | Marta Loureiro Santos, doutorada em Comunicação, professora universitária e fundadora da Universidade Sénior Contemporânea do Porto. Autora com várias obras e investigação publicadas.