A Saúde Intestinal e a Obesidade
A saúde intestinal pode estar relacionada com a obesidade?
Até muito pouco tempo, o papel do tubo digestivo na génese da saúde e da doença era irrelevante. Pensava-se que os intestinos serviam apenas para absorver nutrientes e excretar os produtos não aproveitados da digestão.
Nos últimos vinte anos isso tem mudado drasticamente e já se sabe que o desequilíbrio desse sistema pode impactar direta e indiretamente na saúde integral, bem como no peso corporal.
Com os avanços tecnológicos e a compreensão da fisiologia, admite-se que o intestino seja uma espécie de "segundo cérebro". Alterações na qualidade, quantidade ou equilíbrio da microbiota intestinal podem estar relacionados a uma série de patologias, inclusive obesidade.
O estilo de vida ocidental, caracterizado por uma dieta hipercalórica, industrializada e ricamente processada, aliado a processos emocionais, bem como a predisposição genética, seriam os fatores disparadores do processo, pois romperiam o equilíbrio da microbiota (micro-organismos que habitam nossos intestinos).
Tal desequilíbrio tende a trazer hiperpermeabilidade intestinal (leaky gut) e, posteriormente, inflamação de baixo grau com consequente resistência Insulínica e leptínica, que causariam esteatose hepática (fígado gorduroso), obesidade visceral e alterações na regulação do sistema de fome, saciedade e redução do gasto calórico.
Este estilo seria responsável, ainda, por uma menor produção de ácidos graxos de cadeia curta. Quando isso ocorre, há uma menor produção de GLP-1 e PYY, conhecidas incretinas*1 com ação inibidora da fome produzidas nos intestinos.
Por fim, soma-se uma mudança no balanço de síntese de neurotransmissores, tais como a serotonina e a dopamina, o que pode aumentar o desejo por carboidratos. Isso ocorre em decorrência da inflamação local e da menor absorção de nutrientes pelo intestino doente. Tais nutrientes são elementos indispensáveis ao organismo.
Assim sendo, um bom tratamento de emagrecimento deve dar pormenorizada atenção ao sistema digestivo, e tal passa distante do uso de laxantes (ato muito comummente utilizado nos dias de hoje) que, ao invés de ajudar, atrapalha o processo por desequilibrar ainda mais essa microbiota tão agredida.
*1 Incretinas | As incretinas são uma classe de substâncias produzidas pelo pâncreas e pelos intestinos e que regulam o metabolismo da glicose.
Autor | André Luís de Castro - Médico com residência em Clínica Médica