Assédio Moral no local de trabalho

Assédio Moral no local de trabalho

O mal-estar bateu à porta: assédio moral no local de trabalho

Verificamos um crescente mal-estar no seio das empresas, das instituições, e das diversas entidades empregadoras. Apesar de alguns avanços na melhoria das condições gerais de trabalho e no aumento simbólico do salário mínimo nacional a precariedade laboral ainda é uma realidade fortemente abundante no nosso país. 

A experiência de precariedade faz aumentar o sentimento de incerteza, insegurança e instabilidade que vulnerabiliza pessoas e famílias. Presenciamos um clima geral de mal-estar, que paulatinamente vai ganhando lugar em ambiente laboral, mal-estar acompanhado em muitos casos de um aumento da tensão interpessoal, da agressividade na comunicação, da exacerbação da competitividade, entre outros. 

Neste contexto um dos fenómenos mais reveladores desse mal-estar tem sido o crescente número de casos de assédio moral que são reportados e denunciados. Trata-se de uma realidade preocupante, apesar disso, felizmente já com alguma jurisprudência a favor dos lesados.

Com o intuito de ampliar um pouco mais a nossa compreensão sobre este fenómeno, cumpre-nos alertar para o impacto que este tipo de comportamento lesivo tem nas suas vítimas. 

O assédio moral caracteriza-se por ser uma conduta de repetição de comportamentos hostis e atitudes desprovidas de ética (injustas e incorretas), desenvolvidas essencialmente por um superior ou colega de trabalho contra outros trabalhadores.

A sua principal característica é a ação reiterada que se prolonga durante um longo período de tempo. Esta repetição hostil caracteriza-se por um desrespeito para com a dignidade e a integridade psíquica ou física da pessoa, pondo em perigo o seu emprego ou degradando o seu ambiente de trabalho.

Neste sentido é imperativo defender e garantir o respeito pelo outro e promover relações interpessoais de qualidade no contexto laboral, que contribuam para o bem-estar pessoal dos trabalhadores e, simultaneamente, para um melhor funcionamento das organizações.

O assédio moral no trabalho começa inicialmente por uma mudança repentina na relação entre o agressor e a pessoa que a partir de então se vai converter no objeto de assédio.

Este pode atingir qualquer um dos níveis hierárquicos de uma organização e está relacionado com a função do local que ocupam os protagonistas a nível hierárquico no trabalho.

Existem cinco elementos que nos podem ajudar a identificar se estamos ou não perante a presença de assédio moral, são eles:

A existência de uma conduta de assédio;

A intencionalidade;

A repetição das condutas pelo menos uma vez por semana, durante seis meses;

A desigualdade de poder presente entre o agressor e a vítima;

A vítima apresentar-se psicologicamente desorganizada, com baixa autoestima, sentimentos de culpa, incapacidade de concentrar-se, ansiedade, depressão e isolamento.

Todos estes fatores levam à perda do equilíbrio psicofísico por parte da vítima, o que por vezes a conduz a um estado de enfermidade (aquilo que não está firme), e consequente adoecimento.

Estes atos podem assumir formas de degradação da imagem e isolamento da pessoa, tais como:

Sonegar informações que os trabalhadores e trabalhadoras necessitam para executar o seu trabalho;

Atribuindo-lhes tarefas que não correspondem às suas competências ou a estabelecer objetivos e prazos impossíveis;

Negando-lhes oportunidades de formação, de progressão e promoção profissional, de mobilidade, de renovação de contratos, afastamento da atividade, de recrutamento, de remuneração, de qualificação, de reclassificação, etc.  

Que impacto tem na vítima?

A violência e o assédio no trabalho não prejudicam apenas os seus alvos imediatos, mas todas as pessoas. As potenciais "vítimas" incluem colegas de trabalho, familiares, pessoas amigas, pacientes e clientes.

A violência e o assédio laboral podem afetar por um lado, a saúde da pessoa, o seu bem-estar e dignidade, e simultaneamente ter um efeito adverso nas suas condições de trabalho.

As consequências do assédio moral, também conhecido como "mobbing", são avassaladoras, tanto para a saúde física e psíquica da vítima, como para o funcionamento da própria empresa. Os sintomas mais frequentes estão relacionados com as perturbações de sono, a ansiedade, o stress, a hipervigilância, as mudanças comportamentais. Com a tensão constante, irritabilidade e apreensão, podem também surgir problemas no relacionamento conjugal e depressão.

Do ponto de vista psicológico as vítimas também podem sentir tristeza, vergonha, culpa, ansiedade, depressão, desconfiança, repulsa, descrença e impotência.

Podendo vir a sofrer de síndrome de stress pós-traumático. Outras respostas incluem igualmente reações de choque, desespero, raiva, impotência, problemas de sono, fadiga crónica e aumento do risco de suicídio.

No que concerne à personalidade dos perpetradores tratam-se de personalidades narcísicas (narcisismo patológico), altamente centradas em si, com grande dificuldade de empatizar, de se colocarem no lugar do outro, de o reconhecerem como um legítimo outro.

Geralmente utilizam-se da força para esconder a sua fragilidade e incompetência. A dificuldade em lidar com a competência de terceiros gera-lhes um sentimento de inveja e raiva incontida, que patologicamente é agida como agressão face ao outro. Em linguagem coloquial é de incompetentes emocionais que falamos, com um analfabetismo emocional e afetivo que muitas das vezes é acompanhado de incompetência técnica mascarada pelo seu comportamento agressivo e violento.

Como podemos verificar trata-se de um problema sério demais para ser ignorado.

Cumpre-nos a todos, prevenir, alertar, não tolerar, denunciar e cuidar.

Texto | Vítor Fragoso - Psicólogo Clínico e Psicoterapeuta

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