Caminhos para a Felicidade

Caminhos para a Felicidade

Ser feliz é percorrer o seu caminho, é poder estar no caminho próprio. E estar no seu caminho é uma construção, individual, coletiva e conjunta, nunca só, nunca num solipsismo de clausura egoica. Pois é apenas numa construção em parceria que se fazem as relações humanas genuinamente saudáveis. Por isso é necessário procurar boas alianças para trilhar caminho da vida. É urgente uma nova aliança humana livre de máscaras, de distorções e alienações.

O caminho próprio é antes de mais uma persistência, que quando em concordância consigo se vai confirmando como certo. Regra geral só experimentamos a certeza do caminho mais lá à frente, essencialmente porque soubemos esperar. No caminho para a Felicidade a certeza vai-se firmando pela consistência.

Estar no caminho é uma decisão, é uma ação. O caminho faz-se à medida que caminhamos como nos relembra o poeta António Machado.

E se não há caminho?

Não ver o caminho é não reconhecer as pontes, as ligações, os vínculos, o que une. Se não o vemos, teremos que imaginar um, inventamo-lo e colocamo-nos em marcha, construindo pontes. É necessário trilhar o seu destino, procurar os seus sentidos. No princípio não há caminho, mas à força de tanto caminhar acabamos por criar um.

O caminhar para a felicidade leva na bagagem de cada um e cada uma o propósito, ou os propósitos que se foram descobrindo e construído à medida que se caminhou e caminha pela vida. É um caminho que se faz na convivência do que ocorre, no acolhimento progressivo do que acontece, e isso é a grande matéria-prima do vivido, da vida e da sua existência humana.

Ser feliz é percorrer o seu caminho, não um caminho qualquer, mas o caminho que o aproxima do seu propósito de vida. Como afirma Jorge Bucay, “é sentir a tranquilidade de saber que apesar das oscilações não se vai perdido”. Se a pessoa vai na sua direção, no seu sentido ela está mais tranquila porque vai na direção do que lhe dá sentido. Nesse caminho, no seu caminho, haverá momentos alegres e tristes.

Quando se está feliz ocorrem momentos alegres, mas também momentos tristes. Podemos dizer que é feliz, mas que está triste neste momento, e não tem nada de mal. A tristeza é absolutamente normal, e absolutamente saudável, desde que não se instale e que não faça morada no seu íntimo, nos seus espaços de convivência, na família, no trabalho, na sociedade.

A felicidade depende essencialmente do que se passa da pele para dentro, na interioridade do humano. A sua matriz reside no interior, mas não sejamos inocentes, o interior reflete-se no exterior e este retroage para dentro. É um fluxo de duplo sentido. No entanto se colocamos única e exclusivamente a sua fonte nos outros e no exterior, temos um problema sério, pois tornamo-nos excessivamente dependentes das condições — quando e se.

Não te posso fazer feliz.

Se és feliz ao meu lado, alegro-me muito, espero que te dure, afirma Jorge Bucay. Ninguém o/a pode fazer feliz. Podem fazer coisas que gostamos, que nos alegram, mas isso é outra coisa.

Como sei se estou no caminho para felicidade, se é o correto?

A felicidade seja qual for a nossa definição tem a ver com uma postura de compromisso incondicional para com a própria vida. E esta é tão pessoal e intransferível como a felicidade em si (Bucay, 2002). O que experimento na realidade nunca é o total do vivido, é sempre uma aproximação. Existe o que acontece e o que se sente na partilha das relações humanas, e isso na sua totalidade é indecifrável, sabe-se, sente-se, mas não se é capaz de dizer por completo. Há sempre algo que nos escapa. A nossa experiência é sempre parcial, embora possamos vir a estar inteiros na parte que nos toca.

Escapa-nos sempre algo, algo sempre falta, e não tem mal nenhum. É a nossa condição humana, o grande desafio é aprender a gerir a angústia daquilo que jamais iremos completar, mais do que nos concluirmos, o que estamos é em contínuo processo de completude. Nunca estamos verdadeiramente prontos, existe sempre algo em aberto, e isso é saudável.

Se não te posso fazer feliz, o que posso então?

Apesar de não te poder fazer feliz, pode ocorrer o alegre encontro que possibilite que isso aconteça.

Aquilo que posso fazer é doar-me, sempre que me for possível. O que posso fazer é ser contigo. O que posso fazer é apostar na possibilidade de que nesse encontro humano genuíno a união, a mudança e a transformação possam ocorrer.

E a Felicidade entre as pessoas? O que dizer? O que fazer?

Vivemos a era do absurdo, o ser humano está claramente desorientado de si, perde-se em vestimentas alheiras, em discursos impróprios, narrativas que as toma como suas, perde-se em ideologias alienantes, em religiões castradoras, em mediatismos fugazes. Com tudo isto o Homem fica recorrentemente no que o separa e divide, em vez do que naquilo que o une e que partilha, é dizer, a sua humanidade comum, muito além de qualquer “veste”.

Acomodamo-nos às vestimentas do país e suas fronteiras, à língua, à cultura, perdemos a unidade na diversidade. Por estes motivos, podemos afirmar que é subversivo falar de felicidade entre as pessoas num mundo que se afunda em turbulências profundamente desumanas, em guerras cegas de vingança, em conflitos alienantes, onde ninguém verdadeiramente ganha. Só existe algo verdadeiramente humano, a inteireza e a liberdade, nunca a parte e a opressão. A escolher um lado, escolhemos a ponte, onde cada um se descobre inteiro e transita de um lado ao outro.

Na Felicidade entre as pessoas, o desafio é que tu sejas tu, e que eu possa ser eu, no entretanto, pode acontecer que momentaneamente possamos ser em nós — que bom!

No nós — encontramo-nos, algo encaixou, para logo se afastar, vai e vem, encaixa de acordo com a abertura e a coincidência. O curioso é que há pessoas que independentemente do contexto nunca encaixam. Nunca se permitem se quer aproximar-se, conhecer-se, avaliar as possibilidades de encontro, de troca, de partilha e afetividade.

Ao final de contas o desafio de cada um é viver e ser tocado pela vida. O desafio é deixar-se tocar e permitir que a sua vida também possa tocar a de outros. A felicidade tem mais a ver com a abertura, com compromisso, tem a ver com a qualidade da troca e do sentir comum.

O nosso desafio é viver de verdade. Vive e deixa viver, diz o ditado.

Viver de verdade é ser o que verdadeiramente sou, não a qualquer custo, sem limites. Ser pessoa é ser a partir da realidade dada, é poder ser a máxima expressão de si apesar das limitações que possam estar presentes. Ser o que sou, vai além das expectativas próprias e das dos outros, principalmente quando essas expectativas me limitam e tolhem os outros. Ser quem sou vai além do que esperas de mim.

Como refere Bucay, “o que aqui está, aquilo que ocorre no acontecer da vida, atualiza-me e confirma-me, mas não me define.”

“Posso ser eu contigo, desde que tu possas ser tu comigo.
Eu serei eu quando tu fores tu.
Conhecemo-nos por acaso,
juntos ou separados, podemos continuar,
a nossa vida nunca mais será a mesma
porque a vida ter-nos-á enriquecido pelo nosso encontro.”

(C. Vázquez Bandín, adaptado para o português por Vítor Fragoso).

Por tudo isto e muito mais, façam o favor de serem felizes.


Sugestão de leitura |

•  Bucay, J. (2002). O caminho da felicidade. Pergaminho.


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